Homens brancos não sabem enterrar?

O silêncio aqui no blog se justifica por um misto de trabalho acumulado — a seleção para o festival MIMO e a preparação para a oficina Crítica Curta, que está rolando agora, durante o Festival de Curtas.

Descolo um intervalo, porém, para uma breve propaganda: a Interlúdio acaba de publicar um texto que escrevi. Trata-se de uma análise de choques, fricções e fissuras étnicas a partir do filme Homens Brancos Não Sabem Enterrar (1992), uma argumentação de como esse filme se encaixa num pedaço do imaginário americano, onde avança e onde é covarde, além de puxar a conversa aqui para a nossa realidade (cinema brasileiro contemporâneo), tentando responder a uma pergunta: por que um filme como esse não seria feito aqui?

Fiquei muito feliz com o processo de escrita. É possível, evidentemente, que o resultado, o texto em si, tenha ficado bastante aquém do que gostaria. Mas confesso que esse tipo de texto, que faz apontamentos (ainda que indiretos) sobre o momento que vivemos, o momento do nosso cinema, as tensões pouco comentadas, me parece mais necessário até que um acompanhamento dos filmes de circuito, uma resposta a eles.

Por ser Homens Brancos Não Sabem Enterrar inteiramente ambientado no mundo do basquete, quem tem alguma intimidade com o esporte possivelmente dialogará mais com o texto. Mas essa não era a única intenção: o objetivo é justamente chamar para uma discussão ampla quem ainda não foi tocado pela graça (desculpem-me pelo proselitismo basqueteboleiro).

O link para a leitura é esse aqui. Abaixo, o comecinho do texto:

homens brancos, white men can't jump2

Black men can’t shoot: um olhar sobre o herói de Homens Brancos Não Sabem Enterrar

por Heitor Augusto

O amaciamento já começa pelo título: Homens Brancos Não Sabem Enterrar, tradução que trai sensivelmente o título original White Men Can’t Jump (ou seja, Homens Brancos Não Conseguem Pular). Seria apenas uma discussão infrutífera como muitas outras concentradas em gosto, preferência e chiste com títulos de filmes. Seria, não fosse tal tradução tão alinhada com a maneira que tratamos as tensões éticnicas no Brasil: atenuando-as.

Malabarismo hercúleo atenuar o que é não só evidente, mas força motora desse filme: as relações raciais e os estereótipos a elas associados, carregando uma série de afirmações específicas ao universo do basquete. A começar pelo suposto jeito negro de jogar X o jeito branco. Grosso modo, o primeiro: descolado, no qual o estilo é também parte do jogo, repleto de enterradas; o segundo: voltado para jogo coletivo, em equipe, menos atlético, chutadores mais distantes do garrafão. Como todo estereótipo, há um pouco de verdade, outro de mentira e uma certa preguiça, pois é mais fácil agarrar-se ao chavão do que fazer corpo a corpo com o real.

O basquete americano é uma das arenas com mais nuances para discutirmos interação, performance e papeis entre pretos e brancos no esporte. Comparando: o futebol, especialmente brasileiro: democracia racial, a ginga do samba já canonizada e protegida (ainda que em algum lugar haja o trauma do goleiro preto pós-Barbosa); Tênis e golfe: maioria branca, narrativa explicada muito pelo processo econômico excludente (os famosos “esportes para ricos”); Beisebol: afluência de negros e, principalmente, hispânicos; Futebol americano: a cicatriz parecida com a do caso Barbosa no futebol, ou seja, poucos negros numa posição considerada de absoluta confiança (quarterback e goleiro).

Clique aqui e continue lendo o texto na Revista Interlúdio

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