Jafar Panahí: preso no Irã

Juliette Binoche chorou na coletiva sobre “Copie Conforme”. Jafar Panahí, cineasta iraniano premiado tanto em Cannes como em Veneza, foi preso pelo governo de Mahmoud Ahmadinejad. A razão oficial, nenhuma. Trata-se de mais uma tentativa de impedir os cineastas de falar, assim como o governo chinês fizera no fim dos anos 90 – lá, ou os diretores se submetiam ou não conseguiam mais filmar, como lembra Jia Zhang-ke.

Pois bem, Jafar está preso e, como protesto, o Festival de Cannes o escolheu como jurado. Cadeira vazia nas reuniões do júri. O que levanta duas questões:

1) A força do cinema. Filmes já foram usados como propaganda, combustível militante, reafirmação do imaginário de um povo, uniu tribos sob identidades. Mas, qual a força do cinema hoje? Se pensarmos sobre a vitória de “Guerra ao Terror” no Oscar, filmes continuam com impacto, já que a Academia deu seu prêmio a uma produção que ressalta os valores bélicos norte-americanos.

Mas, se pensarmos na prisão de Jafar Panahí, parece nenhuma. Ao mesmo tempo que prender um cineasta pode significar o medo de um governo pelo poder dos filmes, isso mostra também que a capacidade de mobilização é mínima. O que aconteceu, desde então? Cannes o colocou como júri para protestar e alguns cineastas assinaram um manifesto.

Qual a pressão que as associações de roteiristas e diretores fizeram sobre os governos de seus países? Cadê protesto nas ruas? Por que não se faz filmes que tenham a censura iraniana como tema? Nenhuma pressão sobre as relações comerciais entre os países e o Irã?

O que leva a uma segunda ideia:

2) Manter desocupada a cadeira de Jafar Panahí é o protesto mais efetivo? Que tal Thierry Fremaux, o diretor do festival, parar Cannes? Por que é muito radical? Vai se perder muito dinheiro? Por que artista não interfere na vida, apenas fala dela?

Fico pensando em Jean-Luc Godard e François Truffaut que, ao lado de outros cineastas, implodiram Cannes em 1968. Claro, outro momento, mas, como lembra o documentário “Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague”, havia algo mais importante que o cinema naquele momento: a vida.

Por isso, Godard, que se tornou uma figura completamente esquisita, questionava: pra quê discutir plano geral, plano médio ou qualquer outra coisa se o mundo está fervendo lá fora do Palais des Festivals? Como se furtar à vida quando ela pede urgência?

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