Philip Seymour-Hoffman em filme-aprendizado

Jack Goes Boating, que no circuito brasileiro estreou como Vejo Você no Próximo Verão, me passaria despercebido se não fosse pela insistência de dois amigos que sempre trazem coisas boas sobre cinema, Filippo Cecílio e Julio Delmanto. Depois de ambos me catequizarem, em momentos distintos e sem orquestrarem a iniciativa, para dar uma chance ao primeiro longa de Philip Seymour-Hoffman como diretor, peguei o filme pela rabeira, já quase saindo de cartaz.

Muito bom, por sinal. Se não uma grande direção, ao menos um fino tato para estender as cenas na intensidade certa, deixando escapar a volúpia, o descontrole e as imperfeições de seus personagens. Digo que Vejo Você no Próximo verão passaria despercebido por conta do meu cansaço com o que se entende por “cinema independente americano”, aqueles filmes de baixo orçamento que fogem do esquema massivo de produção, mas não de sua estética.

Nessa linha vão Once, os filmes do Jason Reitman (especialmente Juno), Pequena Miss Sunshine e outros filmes que, ao terminarem, deixam a sensação de “história fofinha”. Filmes que, com o tempo, aproximam-se da nulidade, “saem no xixi”, como diz um colega de crítica que, por discrição, não revelarei a identidade. Por sorte, o filme de Seymor Hofman é bem mais duro, verdadeiro, mesmo que isso não signifique menor ternura ou alegria.

Quando parece que vai assumir os cacoetes desse “cinema independente americano” (obviamente estou exagerando na generalização, mas quem disse que estereótipos não têm um pé na realidade?), o filme escapa, desenvolvendo algumas cenas com aquela verdade que nos deixa embasbacado.

Interessantes na mesma medida são os comentários sutis sobre os Estados Unidos que consomem fortunas em roupas de grife e os que observam. Marginais minimamente alinhados com o mundo do consumo, mas comendo produtos de terceira linha: enquanto os chefes se deliciam com lombo defumado, eles se contentam em comer pão com apresuntado. No caso do filme, motoristas de limusine, entre eles Jack e Clyde, e duas secretárias, Connie e Lucy.

Mas não se enganem, pois não se trata de personagens que não são só tipos para demonstrações sociais de filmes-tese, mas que amam também. Amam e não sabem muito bem o que fazer com esse amor, especialmente numa Nova York friorenta, sob neve. O jeito é “fumar um” e fazer alguma coisa até que o próximo verão chegue e novas portas se abram

Como é comum a filmes com atores/autores na direção, as interpretações são interessantes, comentário que não se restringe ao protagonista que vai passear de barco, mas aos três amigos que sustentam o filme: John Ortiz, Amy Ryan e Daphne Rubin Vega.

Sem estender o breve comentário, Vejo Você no Próximo Verão é, mas não é, cinema independente americano. Só vendo o filme para entender.

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