Sobre Cosmópolis (ou o drible de Cronenberg)

Cosmópolis, o novo de Cronenberg, é o que mais desafia o lugar confortável do espectador entre os longas que estrearam no Brasil neste ano de 2012.

Não que seja este um filme cifrado, hermético, apenas para os iniciados e aprofundados nos códigos do cinema. É, sim, um filme que pede uma saída do lugar passivo – aquele no qual a pessoa espera o filme acontecer – para ir em direção a ele, fazendo, assim, com que ele aconteça.

Há um objetivo inicial do personagem principal, Erick Packer – cortar o cabelo. Mas cada cena constitui uma unidade que tem de se resolver (e se resolve) sozinha. Individualmente provocam um gozo. Juntas formam o mosaico de Erick – e, em última instância, do capitalismo moderno, da especulação financeira, do dinheiro que faz dinheiro, do anestesiamento de tudo que não seja o poder.

Como notou Sergio Alpendre no texto para a Revista Interlúdio [leia aqui a crítica], Cronenberg usa a canastrice de Robert Pattinson a favor de um filme que não usa um registro naturalista. E isso obviamente causa um incômodo a quem entende cinema como sinônimo de imitação da vida, de aposta na ideia da continuidade – acho que Trabalhar Cansa, com pretensões distintas das de Cronenberg, também passou pelo preconceito das “interpretações artificiais”.

Não vale ficar aqui citando todas as cenas do filme, suas possíveis leituras. Ou destacar este ou aquele diálogo num filme cujo encantamento depende demais do texto. Nem há sentido em apenas descrever os procedimentos para um espectador que ainda não viu o filme.

Isso eu deixo para os grandes como o Inácio Araújo, que com sua conhecida habilidade em dar conta da passagem da leitura do filme ao texto crítico, como vê-se nesta crítica aqui.

E uma recomendação viva para que você veja Cosmópolis, o filme do homem-limusine, antes que ele seja chutado das salas.

Um texto mais sério fica para quando o filme sair em DVD.

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