Oscar2013: breves comentários da premiação

Ben Affleck, que não foi indicado a Direção, segura estatueta de Melhor Filme

Como ontem passei toda a cerimônia fazendo troça do Oscar pelo Facebook, aqui vão brevíssimos comentários com um pouco de seriedade sobre a festa dos funcionários do cinema americano, que não é tão séria assim:

  • A premiação pulverizada deve ter pegado de calças curtas quem participa de bolão. Argo ganhou Roteiro Adaptado, Django Roteiro Original; As Aventuras de Pi, Direção; Lincoln, Ator, e O Lado Bom da Vida, Atriz. A vitória de Argo no Sindicato dos Produtores sinalizava a força do filme de Ben Afleck. Mas dar o Oscar a ele significaria premiar, pela segunda vez em 80 anos, como Melhor Filme uma produção que não teve seu diretor indicado. Foi o que aconteceu.
  • Foi um Oscar de questões bastante americanas por filmes como Argo, Django e Lincoln. Um sutil detalhe: ganhou o filme com traços patrióticos sobre um episódio heroico. Os outros dois, que falam de um calcanhar de Aquiles que é bastante visível na sociedade contemporânea, a escravidão e seus rastros, ficaram no posto de coadjuvante. Com o componente adicional de que Tarantino ganhou o Roteiro Original, como se “seu filme é bom, mas essa história de colocar um negro matando os brancos é um pouco demais para a nossa estabilidade”. Yes, we cannot.
  • A parceria de produção Grant Heslov e George Clooney vai dando certo. Os dois têm se especializado em “filmes de qualidade” sobre grandes temas. Casos de Boa Noite, Boa Sorte, Tudo Pelo Poder e, agora, Argo. De Heslov, porém, o que mais gosto é o longa que dirigiu, O Homem que Encarava Cabras.
  • Christoph Waltz repetiu a estatueta de Bastardos Inglórios e ganhou como Ator Coadjuvante. Problema: ele é tão protagonista quanto Jamie Foxx (discuto esse acesso condicionado de Django no centro do filme neste post aqui).
  • As Aventuras de Pi venceu Melhor Fotografia. Deveria ter ganho um sub-Oscar de Melhor Fotografia em Chroma Key. De quebra, levou Efeitos Especiais. Duas leituras possíveis: a visão equivocada que mistura alhos com bugalhos, caindo no clichê da fotografia como “algo bonito de se ver”, ou uma mensagem direta da indústria de que o caminho é o CGI, tela verde e tudo mais: quem não concordar que se dane.
  • Bastante infeliz a homenagem, durante toda a cerimônia, dos musicais da última década. Chicago é medíocre, Dreamgirls – Em Busca de um Sonho tem seus momentos. Os Miseráveis, contenedor de 2013, é um desastre. Vincente Minnelli e Jacques Demy devem ter se revirado em seus túmulos.
  • Não houve grandes gafes no segmento que homenageia os mortos do ano anterior. Surpreendentemente, Tonino Guerra, roteirista de Fellini, por quem a Academia ficou encantada no fim dos anos 1950 até meados dos 60, e Chris Marker, foram lembrados. Não houve, a menos que tenha comido bola, uma ausência na lista de alguém do quilate de Theo Angelopoulos.
  • Haneke, como era de se esperar, levou apenas o Oscar de Filme Estrangeiro, apesar das outras quatro indicações. Independente de gostar ou não do filme, ficou claro a leitura simplista de Amor nos discursos de apresentação, que salientavam apenas o que está à mão, ou seja, o amor entre dois velhos. Há, porém, o mais importante: a velha Europa que rui.

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