A essa altura todo mundo já sabe que Resnais morreu, notícia tão triste que sequer deixa energias para fazer piadas dessa grande piada que é o Oscar ou curtir a rebarba de carnaval.
Não sou muito bom para articular ideias em momentos de morte de gente que admiramos. Vou roubar então o que disse o amigo Fernando Oriente. “Resnais é um dos maiores gênios da história. Ele mudou minha vida para alguma coisa muito melhor.”
Gostaria de recomendar também, entre as coisas já escritas e outras que ainda serão escritas, um texto do português Luís Miguel Oliveira no Público [clique aqui e leia]. E compartilhar também o breve comentário que escrevi sobre Vocês Ainda não Viram Nada para a lista de Melhores do Ano que publicamos na Interlúdio (o filme do Resnais ficou em segundo).
Alain Resnais me proporcionou uma das experiências mais encantadoras de 2013: testemunhar um filme altamente elaborado em seus labirintos e desejos metalinguísticos e, ao mesmo tempo, me emocionar, capturando o meu amor a despeito do enredo já conhecido até de trás para frente – o mito do amor entre Orfeu e Eurídice. Chorei na revisão de Vocês Ainda Não Viram Nada.
Estar fora e dentro de um filme, é isso que Resnais fez comigo. Ora eu saia da imersão só para observar a estrutura – quem é de fato o espectador num filme sobre a representação? Quem é o criador num filme que começa no céu e desce à Terra?; ora me deixava contaminar e ser levado pela palheta de emoções que percorrem os corpos de Pierre Arditi/Sabine Azéma, Lambert Wilson/Anne Consigny. Atores que emprestam seus corpos para modulações distintas da mesma coisa: o encontro da morte como a possibilidade de redenção de um amor.
Uma encenação dentro de outras duas. Cinema dentro do teatro dentro do cinema. Esse é o presente que Resnais me deu com Vocês Ainda Não Viram Nada.