Os franceses e o sexo

Quarenta e quatro anos separam dois filmes que, apesar da distância temporal, aproximam-se pela temática que tanto encanta o cinema francês: aventuras sexuais de um casal ou de uma família. Um deles é é Amor Livre (L’eau À La Bouch, de 1960, no original), que integra o catálogo da Imovision com filmes menos conhecidos da Nouvelle Vague e chega às lojas em janeiro.

Jacques Doniol-Valcroze não é aquele nome que vem automaticamente à cabeça quando se fala de Nouvelle Vague. Enquanto Godard-Truffaut-Chabrol eram os que mais apareciam e traziam uma leva com Jacques Demy, Agnès Varda e Louis Malle, existiam aqueles por trás das cortinas, mais importantes como influências e apoiadores da Nouvelle do que propriamente realizadores proeminentes.

Porém, Amor Livre é um filme digno de destaque, uma chance para ampliar o leque do cinéfilo brasileiro em relação ao que se fazia na França na virada dos anos 50 para os 60.

Mas voltando ao que interessa neste texto, Valcroze fez um filme cuja premissa é muito parecida com muitos outras produções francesas: famílias/casais aparentemente banais e monótonos que, ou quando olhado de perto por uma câmera atenta ou na chegada de um elemento externo, deixam seus desejos aflorarem e, não raramente, costumam se machucar.

Em Amor Livre, a avó de uma família saudável financeiramente morre e deixa a herança, a ser dividida entre três netos: Miléna (Bernadette Lafont), que morava com ela, e os outros dois distantes, Jean-Paul (Paul Gers) e Fifine (Alexandra Stewart). Com a chegada deles, a casa – do ponto de vista sexual – começa a se desestruturar.

Pela construção de Doniol-Valcroze, aquela casa tinha uma lógica própria, a qual o espectador desconhecia antes do filme, mas tinha uma vaga ideia, já que se trata de uma família como qualquer outra. Quando a câmera segue uma simpática criança em direção à mansão, somos levados àquele universo onde os desejos deixam de ser internos para serem concretizados. Assim como entramos, saíamos repentinamente, novamente conduzidos pela mesma menina, após compartilharmos os desejos dos três netos, dum amigo próximo da família, do sócio de Jean-Paul e de dois criados da casa.

Pintar ou Fazer Amor

Uma vez mais no cinema francês, um elemento externo se aproxima de um casal ou uma família e desperta um vulcão adormecido pelo tempo e pela rotina da convivência. Assim é em Pintar ou Fazer Amor, espécie de neto cinematográfico de Amor Livre – curiosamente, os dois títulos são da Imovision.

No filme de Arnaud e Jean-Marrie Larrieu, temos um casal, William (Daniel Auteuil) e Madeleine (Sabine Azéma), juntos há muito. Eis que num cenário bucólico surgem o prefeito do local, Adam (Sérgi Lopez, com charme à flor da pele interpretando um cego), e sua mulher, Eva (Amira Casar). O resto… bem, está no filme.

A questão é que, mesmo com a diferença de tempo (e estilo cinematográfico) entre um filme e outro não os tiram de uma tradição do cinema francês em observar famílias que transparecem calmaria, mas basta uma faísca para ascender o que estava adormecido – geralmente, o sexo.

Ponto de partida que costuma dar bons filmes.

Em tempo: abaixo, imagens de Serge Gainsbourg trabalhando na canção-tema do filme.

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