Os Miseráveis, um elefante branco

Hugh Jackman em Os Miseráveis

Que desastre é esse Os Miseráveis! Não esperava grande coisa, já que não me iludo com a suposta elegância de O Discurso do Rei, o filme anterior de Tom Hooper. Só não contava com um filme com tantas decisões equivocadas, especialmente da direção.

Não entendo porque Hooper largou um estilo de direção mais acadêmico, que fez de O Discurso do Rei um filme-Mauricinho, mas ainda assim um filme, e foi se “modernizar” com câmera na mão. Até agora não compreendi porque a câmera se comporta como se empunhada por um cinegrafista da Al Jazeera que registra corpos explodindo no momento de um atentado no Oriente Médio.

Hooper não nos deixa ver o filme. Cola a câmera nos atores quase todo o tempo. Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Eddie Radmayne e seus comparsas fazem caras e bocas que parecem ter saído diretamente do curso de atuação do Mojica.

Gasta-se dinheiro com figurinos, figurantes e cenários (sejam eles físico ou CGI), mas são raros os planos gerais. Não há respiro e os planos se sucedem com velocidade voraz, dando a impressão que, apesar de durar quase três horas, o filme tem pressa em acontecer.

No terço final, Os Miseráveis já não sabe mais o que fazer com o que contou até então. Passa um tempo monstruoso delineando o jogo de gato e rato de Jean Valjean e Javert, mas joga tudo para o alto e decide ser um romance. Lembra-se, mais tarde, que existe o conflito entre os dois, então gasta minutos numa cena com Crowe e seu dilema (câmera subjetiva do rosto olhando para o pé no parapeito é brincadeira!).

Para incrementar, um pequeno detalhe: Os Miseráveis é um musical em que a maioria do elenco principal canta apenas o suficiente para tapear. Uma coisa é dar conta de algumas cenas num filme breve. Outra é segurar números longos num filme arrastado e repetindo o mesmo registro vocal dos outros atores. Resultado: Rusell Crowe.

Quando as cenas razoáveis aparecem – as participações de Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, por exemplo – a minha tolerância já tinha se esgotado. Quando o martírio findou e o filme acabou, não segurei: soltei uma gargalhada acumulada após tantos momentos embaraçosos no filme.

Umas três senhoras na minha frente olharam torto, acho que não gostaram da minha reação. Vai ver elas tinham acabado de assistir a um grande filme, eu é que estou cego.

Mojica e seu curso de interpretação, inspiração para os atores de Os Miseráveis

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