Dois filmes de Sam Peckinpah

Fernando Oriente, em seu blog Tudo Vai bem, avisa-nos de que o CineSesc fará uma retrospectiva dos filmes de Sam Peckinpah a partir de 25 de julho. Sem dúvida, um dos eventos do ano (já projeto o impacto da saga do anti-herói em Traga-me a Cabeça de Alfredo Garcia ou o clímax sanguinolento de Meu Ódio Será Sua Herança naquela telona).

Aproveitando o gancho, posto aqui duas breves resenhas que publiquei na Preview, ambas para a seção Home. Uma de Sobre o Domínio do Medo (Straw Dogs, 1971), outra sobre Juramento de Vingança (Major Dundee, 1965).

major dundee juramento de vingança

Juramento de Vingança*

Cotação: 3,5 estrelas

Antes da reorganização de elementos comuns às narrativas consolidadas no cinema, Sam Peckinpah exercitou integrar-se à tradição. Juramento de Vingança (1965) é a chance de conhecer um diretor ainda rascunhando um estilo que seria mundialmente conhecido após Meu Ódio Será Sua Herança (1969), o faroeste que reescreveu os caminhos do gênero no cinema americano.

Se após a fama internacional Peckinpah seria conhecido (e criticado) por flertar entre a apropriação crítica à violência e sua glamurização – discussão centrada especialmente nas matanças registradas em câmera lentra –, em Juramento de Vingança esse canal ainda não havia sido aberto. Aqui vemos um faroeste próximo à gramática clássica, contando a história do major Dundee (Charlton Heston) e sua caçada para exterminar um líder Apache.

Ambientado no final da Guerra Civil (1861-65), a América do filme é um arranjo explosivo (negros dividem as fileiras de batalha com confederados do sul e ladrões, todos lidrados por um militar do norte). Apesar do questionável patriotismo que ronda o filme, ele tem a qualidade de deixar o caldeirão fervilhar até o limite.

*originalmente publicado na Revista Preview – Edição 55 – Abril/14

straw dogs sob o domínio do medo-ed

Sob o Domínio do Medo**

Cotação: 4,5 estrelas

Com dois dos filmes brasileiros recentes mais comentados – O Som ao Redor e Trabalhar Cansa – construindo uma atmosfera que cria fissuras de suspense e desconforto num cenário de aparente calmaria, Sob o Domínio do Medo pode até parecer “mais um” para um público jovem que acaba de descobrir o filme.

Lembremos que Sam Peckinpah (1925-1984) foi um cineasta de modernização das formas narrativas do cinema clássico de Hollwyood, especialmente o faroeste. Sob o Domínio do Medo é uma modulação setentista do western: um estranho (Dustin Hoffman) com uma ética definida chega a uma cidade e tem de, a contragosto, mergulhar na violência para defender uma pessoa/uma moral.

Cortes secos e elipses (supressão do tempo), enquadramentos inusitados, aparente falta de razão para certos gestos dos personagens. Assim Peckinpah estabelece gradualmente o desconforto e anuncia o iminente desabamento do mundo em observação.

Num momento do cinema mainstream em que cada plano dura um terço de segundo, a “demora” para o início da “ação” em Peckinpah parece até uma afronta. Mas não é justamente no deslocamento, na saída da zona de conforto, que se forma um espectador de cinema atento para perceber que o conteúdo está também na forma?

**originalmente publicado na Revista Preview – Edição 51 – Dezembro/13

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