RIO — Alguns cineastas apresentam diferentes “fases”, períodos em que se interessam por temas e abordagens diferentes. Certamente é possível encontrar, quando olhamos mais profundamente, elos entre os filmes. Como Lírio Ferreira, que com “Baile Perfumado” falou do olhar estrangeiro por meio de um líbanês e em “Árido Movie” com o homem do tempo radicado em São Paulo e que tem de voltar para o sertão.
Mas, para além do diálogo nas entrelinhas, há diretores, como Phillipe Garrel, que nos deixam com a sensação de “hmm, eu já vi isso antes…”. Ao assistir “A Fronteira da Alvorada”, da mostra Panorama Mundial do Festival do Rio, muito do já apresentado em “Amantes Constantes” (2004) é retomado. Não me refiro especificamente apenas à fotografia em preto e branco, mas também a enquadramentos, o close nas musas e no muso (Louis Garrel). E a retomada do tema do amor.
Entre os pontos de diálogos dos dois filmes, ambos exigem mergulho total (!) do espectador. Como é relativamente previsível o desfecho das histórias dos personagens principais, o espectador têm de se apegar aos detalhes e as surpresas mínimas de situações que o diretor propõe. Senão, a história não passa de um começo, um fim com um recheio no meio.
Assim como em “Amantes Constantes”, o protagonista é interpretado por Louis Garrel e se chama François. No filme anterior, o amor e a liberdade frente aos acontecimentos de maio-68 e do ano seguinte eram o motor. Não só o amor também volta para ligar o François de “A Fronteira da Alvorada” à Carole (Clémentine Poidatz), mas a liberdade. Após o suicídio da namorada, ele não consegue se desgrudar da sua imagem, que o perturba e influencia sua decisão final.
Infelizmente, no quesito estilo, os espectadores brasileiros que não são consumidores da Amazon.com ou habitués de downloads do eMule não podem ir além na comparação entre os filmes anteriores de Garrel. “Amantes Constantes” (prêmios de fotografia e direção em Veneza) foi o primeiro longa do diretor a estrear no Brasil. E “Fronteira da Alvorada”, que concorreu à Pauma de Ouro em Cannes este ano, será distribuído, novamente, pela Imovision (ainda sem data de estréia definida).
Em tempo: o ator Louis Garrel, o novo rosto bonitinho da França, é filho do diretor Phillipe Garrel. Abaixo, o trailer do filme.