Já se vão 24 anos que Dirty Dancing – Ritmo Quente, o irregular musical com Patrick Swayze que termina com a longa sequência embalada por Time of My Life, surfou na onda que reascendeu os musicais. O filme tem personagens carismáticos, conservadorismo que faz tudo terminar em festa e uma direção bem ruim, do nível daquele Emanuele em que a protagonista vem para o Brasil para esquecer uma grande paixão e, no caminho, faz uma cirurgia plástica de corpo inteiro!
Mas o que justifica este comentário 24 anos depois do lançamento e quatro anos da edição dupla comemorativa ter saído em DVD é um detalhe no filme: a insinuação sexual do ménage à trois e a repressão do desejo.
Num verão qualquer, famílias ricas vão para um resort. Entre os Houseman, Baby é uma adolescente que tem o pai como modelo de homem. A estadia e a tal da dança proibida do título vão mudar o rumo da família, especialmente de Baby.
Dirty Dancing – Ritmo Quente é ambientado em 1963, quando, diz um personagem, “os jovens já não querem vir pra cá para aprender fox strot, mas visitar a Europa!”. Um olhar inocente sobre um tempo de mudança. Como demonstra a sequência final, em que pais caretas, esposas fiéis e infiéis, meninos medrosos e meninas que desejam caem na dança.
No fim das contas, são todos reprimidos comportamental e sexualmente. Talvez aquela dança frenética de corpos colados, erótica e lasciva será a única chance em suas vidas de libertar as fantasias e usufruir o desejo. Patrick Swayze, dançarino esguio de movimentos leves e sensual movimento de cinturas, é quase um Eros que joga uma sementinha devassa naquela caretice reinante.
Curioso é que o tratamento do sexo no filme é tão puritano quanto a cabeça dos personagens. Filmar a transa? Jamais! No máximo, beijos ardentes à meia-luz e… corta! Tudo neste filme é insinuação, não exposição. A mais interessante é, em uma cena bucólica em que Baby está dando os primeiros passos como dançarina improvisada e é auxiliada ao mesmo tempo por Johnny (Swayze) e Penny (Cynthia Rhodes). Em outro take, Johnny está sentado do piso observando as duas garotas dançando juntas, de maiô e meia-calça sensual. Nada é dito, fica só nas entrelinhas.
Essa libertação como ato isolado na vida da maioria dos personagens desse musical tem muito a ver com a dos três bêbados em Se Beber, Não Case! e na sequência lançada neste ano. Especialmente o personagem de Stu, o dentista, que, após casar-se com uma prostituta no primeiro filme, passa a noite na esbórnia se divertindo com uma travesti.
No dia seguinte, dá-lhe lamentação. O jeito é esquecer, fingir que não aconteceu. Afinal, foi só uma noite. “O que acontece em Vegas, fica em Vegas” é o lema deles. Assim como o que se passa em Bangcoc deve ficar por lá mesmo. De preferência, enterrado.
Neste sentido, Dirty Dancing – Dança Proibida e Se Beber, Não Case são dois filmes inteiramente diferente que aparentam falar de uma série de coisas. A mais interessante delas é a do homem médio que se reprime diariamente. O sexo é componente primordial. No musical, a dança é o escape. Na comédia, a bebida.
Em tempo: como este texto acabou ficando sério demais, para descontrair em torno de Dirty Dancing coloco o link indicado por Francis Vogner dos Reis na volta para São Paulo após a cobertura da CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto. Trata-se uma brincadeira de como seria o trailer do filme se a direção fosse de… David Lynch!