— de Paulínia
Três dias de competição e uma das mais mal sucedidas seleções de curtas-metragens entre os grandes festivais de cinema nos últimos anos. Após a exibição de seis produções, digo que temos apenas um Filme em letra maiúscula: Tela, de Carlos Nader, interessante ponto de interrogação no próprio formato e em como colocá-lo para o público na sala de cinema, não só em festivais.
Fora esse, restam boas intenções (A Grande Viagem e O Cão) que não escapam de um discurso moralista, ou conteúdo audiovisual regado de toques menos (Trocam-se Bolinhos por Histórias de Vida) ou mais (Café Turco e Polaroid Circus) publicitários. Vendem-se ideias simpáticas, no caso do primeiro filme, ou superficialmente políticas, no caso do segundo.
À exceção do filme de Nader, todos contam histórias com começo, meio e fim, sem percalços, terminando com uma lição de moral. Todos com tique da publicidade, enquadramentos simétricos, montagem esperta, iluminação horrivelmente asséptica (que em Trocam-se Bolinhos é berrante). O mais estranho é certamente Polaroid Circus [foto] em que uma belíssima mulher passeia pelas ruas de Paris tirando fotos e se relacionando com a cidade.
No papel, parece até interessante, mas na telona torna-se um longo comercial de vários produtos: lingerie, cartão postal de uma cidade, fotografia de moda, maquiagem, da modelo e por aí vai. É realmente estranho um filme como esse num festival de cinema como o de Paulínia, que atrai tantas atenções.
Se até a quinta-feira a seleção de curtas-metragens continuar tão inferior à de longas, algo precisará ser repensado em 2012 em relação à curadoria. No ano passado, Paulínia exibiu grandes curtas (Tempestade e Eu Não quero Voltar Sozinho são alguns deles). Não pode ser problema de safra: desde Tiradentes, que inaugura o calendário de festivais, temos assistido a bons filmes.
Não dá para exibir longas do nível de O Palhaço ou Uma Longa Viagem, que possibilitam várias possibilidades de leitura, ao lado de curtas pífios Polaroid Circus, uma sub-versão marqueteira de A Bela Junie.
*Heitor Augusto viajou à Paulínia a convite do festival e também realiza a cobertura para o Cineclick.