GLOBO DE OURO: Em premiação dividida, The Artist confirma favoritismo e Os Descendentes abocanha prêmio

Jean Dujardin, premiado como Melhor Ator, em cena de The Artist

Ricky Gervais prometeu, mas não cumpriu. Mestre de cerimônias do 69º Globo de Ouro, que consagrou Os Descendentes e The Artist [veja lista completa abaixo], o comediante britânico foi tão ácido quanto em 2011, mas não tão engraçado.

Mas por que começar falando do apresentador num evento sobre cinema? Simples: porque como em qualquer entrega de prêmios, as surpresas são poucas e os discursos ora políticos, ora quero-agradecer-todo-mundo-que-é-importante-na-minha-vida-e-elogiar-meus-concorrentes. Um apresentador capaz de manter a audiência acordada durante as três horas de cerimônia é algo fundamental. Torna a brincadeira menos enfadonha, os aplausos menos falsos e a hipocrisia menos efetiva.

A melhor de suas piadas foi a que justamente falou de cinema. “Missão Madrinha de Casamento provou que as mulheres podem ser tão grosseiras quanto os homens”. De resto, uma cutucada no amigo Johnny Depp (“o homem capaz de vestir qualquer coisa que Tim Burton mandar”) e outra em Madonna (“ela é quase virgem”, em referência à canção Like A Virgin), que rebateu: “Se eu sou uma quase-virgem, por que você não vem aqui e faz algo com isso? Faz tempo que não beijo uma mulher. Na televisão”.

Os Descendentes: o filme independente do ano nos EUA

Premiação

A Hollywood Foreign Press Association (HFPA), que elege os vencedores do Globo de Ouro, decidiu espalhar os prêmios das categorias de cinema neste ano.

As três principais categorias – Filme (Drama), Direção e Roteiro – foram para três filmes diferentes. Respectivamente: Os Descendentes, que deve ser mesmo o filme independente do ano nos Estados Unidos; Martin Scorsese, o único prêmio de A Invenção de Hugo Cabret da noite; e Woody Allen (que se deu ao luxo de não ir à cerimônia), que volta a ter seu principal atributo (o roteiro) reconhecido.

Entre os musicais ou comédias, não teve nem graça. Os três prêmios a The Artist (Filme, Ator e Trilha Sonora) mostram que voltou-se a cultivar o saudosismo num cenário de produção cada vez mais hostil à realização arriscada – situação que precisa ser mais estudada, seja com o filme de Michel Hazanivicius, Super 8 ou Cavalo de Guerra.

Esperava-se que os membros da HFPA tivessem mais carinho com Histórias Cruzadas e O Homem que Mudou o Jogo. O primeiro perdeu onde era favorito (Melhor Atriz, já que Meryl Streep abocanhou um prêmio que poderia tranquilamente ir para Viola Davis) e ganhou no inesperado (Octavia Spencer como Atriz Coadjuvante, enfrentando candidatas fortes).

Já o filme sobre a grande revolução no beisebol saiu de mãos abanando. Na categoria onde mais tinha chance, o Roteiro, perdeu para Meia-noite em Paris. No meio do caminho tinha uma (bem-vinda) pedra. Como disse Aaron Sorkin, corroteirista de O Homem que Mudou o Jogo no Twitter, “é uma honra perder para Woody Allen”.

Me parece que Melhor Atriz – Drama foi a categoria que mais concentrou talentos dos indicados ao Globo de Ouro. Mesmo em filmes médios como Albert Nobbs, Glenn Close, Viola Davis, Rooney Mara, Meryl Streep e Tilda Swinton capricham.

Já Melhor Filme em Língua Estrangeira é a que menos teve bons filmes. E deve ser recebido com felicidade o prêmio ao iraniano A Separação, de longe o melhor de todos. Se exagerou nas indicações ao tenebroso Missão Madrinha de Casamento, a HFPA teve coragem de não premiar autores como Almodóvar ou os Irmãos Dardenne, indicados por filmes inferiores a outros trabalhos.

Momentos marcantes

No geral, a cerimônia do 69º Globo de Ouro – importante, mas não uma prévia tão efetiva do Oscar quanto os prêmios dos sindicatos de categorias – foi morna. Um erro no teleprompter testou a versatilidade dos apresentadores.

O trecho mais emocionante foi a troca de afagos entre o lendário ator Sidney Poitier e Helen Mirren, apresentadores do prêmio Cecil B. DeMille, ao agraciado Morgan Freeman. Quanto Poitier subiu ao palco, o silêncio se estabeleceu. O Beverly Hilton Hotel parou para ouvir aquele tom grave de voz. “Você é um príncipe da profissão que escolheu”, diz Poitier. A cerimônia podia ter acabado ali.

Sobraram algumas piadas com o sotaque latino do espanhol Antonio Banderas e da mexicana Salma Hayek e do acento francês da equipe de The Artist. Gervais também ironizou Eddie Murphy, que desistiu de apresentar o Oscar em fevereiro após a saída de Brett Ratner da produção da cerimônia. “Se uma pessoa diz ‘não’ para o Oscar e ‘sim’ para Norbit… bem…”.

Esclarecimento

Este blogueiro não acompanha um número suficiente de séries televisivas e decidiu se abster de qualquer comentário da premiação de TV da cerimônia.

Veja a lista completa dos vencedores do 69º Globo de Ouro:

Cinema

Melhor Filme (Drama)
Os Descendentes, de Alexander Payne

Melhor Filme (Musical ou Comédia)
The Artist, de Michel Hazanvicius

Melhor Diretor
Martin Scorsese, de Hugo

Melhor Ator (Drama)
George Clooney, de Os Descendentes

Melhor Atriz (Drama)
Meryl Streep, de A Dama de Ferro

Melhor Ator Coadjuvante (Drama)
Christopher Plummer, de Toda Forma de Amor

Melhor Ator (Musical ou Comédia)
Jean Dujardin, de O Artista

Melhor Atriz Coadjuvante
Octavia Spencer, de Histórias Cruzadas

Melhor Atriz (Musical ou Comédia)
Michelle Williams, de Sete Dias com Marilyn

Melhor Roteiro
Woody Allen, de Meia-noite em Paris

Melhor Animação
As Aventuras de Timtim: O Segredo de Licorne, de Steven Spielberg

Melhor Trilha Sonora
Ludovic Bource, de The Artist

Melhor Filme em Língua Estrangeira
A Separação, de Asghar Farhadi

Melhor Canção Original
Masterpiece, de Madonna, Julie Frost, Jimmy Harry

Televisão

Melhor Minissérie ou Filme Feito para a TV
Downton Abbey Masterpiece Classic

Melhor Série de TV (Drama)
Homeland

Melhor Série de TV – Musical ou Comédia
Modern Family

Melhor Ator de TV (Drama)
Kelsey Grammer, de Boss

Melhor Atriz de TV (Drama)
Claire Danes, de Homeland

Melhor Ator de TV (Musical ou Comédia)
Matt LeBlanc, de Episodes

Melhor Ator de Minissérie ou Filme Feito para a TV
Idris Elba, de Luther

Melhor Ator Coadjuvante (Série, Minissérie ou Filme Feito para a TV)
Peter Dinklage, de Game of Throns

Melhor Atriz Coadjuvante (Série, Minissérie ou Filme Feito para a TV)
Jessica Lange, de American Horror Story

Melhor Atriz de Minissérie ou Filme Feito para a TV
Kate Winslet, de Mildred Pierce

Melhor Atriz de TV (Comédia ou Musical)
Laura Dern, de Enlightened

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