Com Jack Nicholson, clássico do Nova Hollywood reestreia no cinema

Cada Um Vive como Quer, clássico de 1970 produzido no auge da Nova Hollywood e estrelado por Jack Nicholson, reestreia nesta sexta-feira (24/2) no Cine Olido, centro de São Paulo. Os ingressos custam R$ 1.
O tempo e a revisão fazem bem ao filme de Bob Rafelson. Cada Um Vive como Quer (Five Easy Pieces) é tão datado quanto seu contemporâneo Sem Destino(Easy Rider). Falo de ser datado no bom sentido, pois é praticamente irresistível não cair na tentação de buscar pontos de diálogos dos filmes da Nova Hollywood e perceber como eles refletem um certo humor dos Estados Unidos.
Muito comum naquele momento do cinema, em que os estúdios estavam em crise, tentando entender o que a juventude queria ver na telona e como tirar o público de frente da telinha, os personagens que embarcam numa jornada de busca tomam o lugar dos homens cheios de certeza. Saem os grandes eventos, entram os detalhes dos cotidianos. Pessoas normais, gente como a gente, de questões comuns.
Em Cada Um Vive como Quer, Robert (Jack Nicholson), que prefere a alcunha de Bobby, largou para trás sua família aristocrata e de músicos para viver de bicos. Quando o conhecemos, no começo do filme, ele trabalha como peão de obra. Logo descobriremos que, assim como a de seus irmãos, sua trajetória estava moldada para tornar-se um grande pianista.
O encontro com Scorsese e Coppola
Filme de incertezas, cortes secos, personagens comuns, finais abertos, recusa em mastigar a história ao espectador, atuações fortes, a estrada como o espaço dos acontecimentos… Cada Um Vive Como Quercompartilha uma série de características de outras produções da Nova Hollywood, aquela geração que se forma em cinema em meados dos anos 1960 e aproveita esse hiato na indústria para tornarem-se diretores.
Em Coppola, uma jovem mulher recém-casada não aguenta a pressão do cotidiano e entra numa aventura sem rumo definido (Caminhos Mal Traçados). Em Scorsese, uma viúva na casa dos 30 pega a estrada com o filho e tenta bancar o sonho de viver como cantora (Alice Não Mora Mais Aqui). Em Dennis Hopper, dois arquétipos da contracultura viajam de cabo a rabo pelos Estados Unidos (Sem Destino). Em Ashby, um jovem amplia sua perspectiva com o mundo ao conviver com uma septuagenária (Ensina-me a Viver).
De maneira alguma trata-se de cópia. Temos ali refletido um moodde uma nação. Continua sendo um prazer olhar para o conjunto desses filmes e criar leituras entre eles. A descoberta é um tema comum a todos os personagens.
Karen Black (à esquerda), namorada de Nicholson no filme, é um dos destaques
Redescobrir filmes
É muito bem-vinda a reestreia promovida pelo Cine Olido, pois na produção da Nova Hollywood ele se tornou um filme bem menos comentado que seus contemporâneos. Cada Um Vive Como Queré menor que um Taxi Driver, mas é bem melhor do que a gente costuma lembrar.
Além do dialogo com um momento de um país, ainda encanta neste filme de Bob Rafelson o equilíbrio entre cinismo, humor e melancolia. Há um vazio imenso nos personagens do enredo, encoberto pelas situações cômicas que aparecem pelo caminho (o irmão com o pescoço quebrado, a namorada histérica, as caroneiras que querem se mudar para o Alasca etc).
Outro mérito é ter Jack Nicholson em grande forma – entre 1969 (Sem Destino) e 1980 (O Iluminado), ele emendou uma sequência de grandes filmes e algumas obras-primas. Quando o filme confia na força do personagem, no talento de seu ator e investe no aspecto à deriva daquele momento, surgem uma porção de boas sequências. Entre elas, o piano sendo tocado no meio da estrada em cima de um caminhão, a cena de encerramento, a reunião dos amigos da família de Bobby e por aí vai.
A melhor sequência do filme é a carona para as duas mulheres (um casal?) que decide mudar-se para o Alasca. Por que? “Porque lá é limpo e não tem essa sujeira toda”. São quase dez minutos de diálogos fenomenais e politicamente incorretos. Uma personagem que tem tanto uma porção de Travis Bickle quanto do personagem do marido traído que Martin Scorsese faz em Taxi Driver.
Cada Um Vive Como Quer sobrevive porque é peça importante para entender o quebra-cabeça comportamental e cinematográfico do início dos anos 1970, mas também pelo puro e simples prazer que ele proporciona a quem o assiste – prazer estético, o que não significa dizer que o enredo não seja cheio de desconforto.
Serviço
Reestreia de Cada Um Vive Como Quer (Five Easy Pieces)
Cine Olido – Avenida São João, 473
Ingressos: R$ 1 (inteira) e R$ 0,50 (meia-entrada)
Horários
Sexta-feira (24/02), às 19h30
Sábado (25/02), às 19h30
Domingo (26/02), às 17h30
Terça-feira (28/02), às 19h30
Quarta-feira (29/02), às 19h30
Quinta-feira (01/03), às 19h30
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