Os zumbis e os psicopatas tomaram de assalto o CineSesc ontem na ótima Sessão do Comodoro, projeção mensal de filmes pouquíssimo conhecidos organizada por Carlos Reichenbach, o grande diretor-cinéfilo de produções fundamentais como Filme Demência, Lilian M: Relatório Confidencial, Anjos do Arrabalde e do subestimado Falsa Loura.
Quem abriu a sessão foi o curta-metragem A Morte e a Morte de Johnny Zombie, do crítico e pesquisador Gabriel Carneiro, um dos ativos colaboradores da Revista Zingu. Tão latente quanto a precariedade de recursos está o exercício de linguagem no cinema de gênero, algo que infelizmente alguns festivais parecem não ter a coragem de valorizar, posto que o curta teve poucas janelas de exibição em 2011.
Narra-se a transformação em zumbi de um homem atingido por um vazamento químico. Parte da história é contada em câmera-subjetiva, ou seja, aquela que assume o olhar do personagem, recurso que Dario Argento, o mestre, usou antologicamente em Terror na Ópera na cena em que mostra um corvo sobrevoando o teatro para, em seguida, repetir o movimento com a câmera, imitando o movimento da ave.
O longa que Reichenbach programou nesta sessão Comodoro foi Psicopatas (Frightmare, 1974), sobre o qual não sabia nada e que se revelou como uma grata, mesmo que irregular, surpresa. (Parênteses: Carlão é, além de um grande diretor, um cinéfilo com olhar muito apurado e generosos para o cinema, que constantemente compartilha leituras no seu blog Olhos Livres).
E Psicopatas esbarra, com muita ironia, numa questão que continua importante: quem detém o poder de determinar a sanidade (ou a falta dela) em uma pessoa? Como o manicômio funciona como instituição que entra quando o corpo social não dá mais conta de absorver o que foge da norma?
Mais uma vez, o cinema de gênero arrisca-se a fazer comentários e proposições. No caso deste filme, fala-se de canibalismo e a suposta reincorporação à sociedade de um casal que passou 15 anos num hospício: ela, por cometer os atos; ele, por acobertá-los.
Interessante, mas irregular, o filme tem momentos muito inspirados – sendo o principal o plano final, de solução brilhante – e outros nem um pouco – como as elipses bizarras ou os personagens-muleta que entram para explicar o imbricado enredo.
Mas é cinema de horror feito decentemente e com ganchos para buscarmos diálogo com o estado das coisas.
Não deixa de ser curioso, porém, as frases trazidas pelo pôster original: “Sanguinolento, brutal e muito nojento”. Sinceramente, acho que o crítico autor dessa frase estava com a cabeça na lua ao escrever isso.
Abaixo, a versão integral de Psicopatas no YouTube – já que o filme, obviamente, nunca foi lançado no Brasil:
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