Esse fenômeno lança alguma luz sobre a ambiguidade das posições do crítico brasileiro frente à produção cinematográfica de seu país. O filme nacional é um elemento perturbador para o mundo, artificial mas coerente, de ideias e sensações cinematográficas que o crítico criou para si próprio. Como para o público ingênuo, o cinema brasileiro também é outra coisa para o intelectual especializado. Atacando com irritação, defendendo para encorajar, ou norteado pela consciência de um dever patriótico, o crítico deixa transparecer sempre o mal-estar que o impregna. Todas essas posições, particularmente o sarcasmo demolidor, são véus utilizados para esconder o sentimento mais profundo que o cinema nacional suscita no brasileiro bem formado — a humilhação.
Algumas das ideias que Paulo Emílio Salles Gomes solidificou sobre o cinema brasileiro e seu estado subdesenvolvido, publicadas entre o começo dos anos 1960 até 73, data do seminal ensaio Cinema: Trajetória no Subdesenvolvimento, ficaram datadas. Outras, pelo contrário, mostram-se de uma atualidade cruel. Uma delas é o desconforto em lidar com a precariedade do cinema nacional – apesar do falacioso entusiasmo momentâneo provocado ou pela presença em festivais internacionais, no campo da legitimidade, ou no volume de recursos nos editais, no campo da produção.
Paulo Emílio será constantemente evocado nesta edição do Festival de Cinema de Brasília, a 45ª, por ser um dos eixos do evento – a atualidade de seu pensamento deverá nortear as discussões. É preciso lembrá-lo não só para completar o hiato da trajetória do cinema brasileiro nos últimos quarenta anos, mas para clarificar onde a crítica entra na problematização de uma cinematografia. Aí entra o mal-estar da crítica, a posição ambígua do crítico e o longa de abertura, A Última Estação.
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