Algumas coisas não se pode cobrar do cinema de Lúcia Murat (Uma Longa Viagem, Quase Dois Irmãos, Que Bom te Ver Viva). Uma delas é a insistência no assunto dos rastros da Ditadura. É chover no molhado dizer isso, mas quem faz filme parte de um ponto de vista, o seu, e se posiciona no mundo com suas experiências.
E há muito ficou claro que Lúcia tem no cinema a maneira de se manter viva, sobreviver a si mesma – é sabido que, tal como muitos de sua geração, a cineasta foi presa e torturada pela Ditadura Militar, sequela da qual jamais se recupera.
Pode-se cobrar, obviamente, que faça filmes bons. Mas não se pode reclamar de ter sido enganado: quando vamos assistir a um filme de Lúcia Murat já sabemos que estará em discussão o Brasil sob o ponto de vista da geração que lutou contra a truculência militar, uma avaliação de seus méritos/deméritos e invariavelmente uma desilusão com o que se tornou o país (especialmente a questão da esquerda no poder, o cenário pós-Lula).
Talvez mais interessante do que reclamar que é mais do mesmo seria perguntar por que não tocam no assunto com filmes as gerações que não viveram a tortura na pele? Ou de quem viveu aquele momento de maneira diferente, tal como Ugo Giorgetti e seu cinema humanista consegue com Cara ou Coroa? Não residiria a possibilidade de frescor na entrada de outros cineastas, mais jovens talvez, nesta seara?
Continue lendo o relato do Festival de Brasília na Revista Interlúdio.