Finalmente assisti ao primeiro longa da Trilogia Coração no Fogo, A Fuga da Mulher Gorila, trazido pela retrospectiva em São Paulo da Semana dos Realizadores [veja programação aqui]. A Alegria e Desassossego completam a trilogia articulada por Felipe Bragança e Marina Meliande.
Ver o primeiro filme ajudou a delinear alguns dos sentimentos esparsos vividos durante a visão (e revisão) de A Alegria. O principal é o incômodo que me causou a ideia de política que os personagens trazem.
Em A Fuga da Mulher Gorila, duas irmãs viajam com uma kombi apresentando um show mambembe da mulher que se transforma em gorila. O sentimento de busca, de imobilidade, de acessar o lúdico (as justaposições das imagens da mão da menina e as luzes de balada) guiam as personagens e o filme, com um leve gosto de melancolia por trás.
À exceção de breves encontros e paradas, as irmãs passam quase todo o filme juntas perdidas na estrada, no mato, em frente ao rio. Mesmo que o rio represente a imensidão a se buscar, elas continuam isoladas.
Situação parecida de A Alegria, em que Luiza e seus amigos ficam quase todo o tempo juntos – também ou no mato ou no apartamento. Ela diz ter um anel que a fará atravessar paredes.
Em ambos, personagens que falam de dentro para dentro, que se protegem com os amigos, mas de pouco embate com o mundo.
Daí o porquê de Esse Amor que nos Consome, de Allan Ribeiro, me encantar muito mais que os dois longas da Trilogia Coração no Fogo. Pois seus personagens também querem acessar o lúdico e pintar o mundo, mas o faz indo para fora, saindo do espaço de conforto – a inteiração na praça movimentada no Rio de Janeiro, a dança do cais etc.
São nesses momentos que, paralelamente ao aspecto de a companhia de dança do filme ter que se equilibrar em arame farpado para sobreviver, os personagens de Esse Amor que Nos Consome tentam fazer do Rio uma cidade melhor.
A política desse filme me interessa mais que a dos outros dois.