Pieta, de Kim Ki-duk |
A simples menção ao cinema de Kim Ki-duk desperta humores. Citar seus filmes pregressos – A Ilha, Casa Vazia – é pisar em areia movediça onde se misturam tanto os apaixonados pela “potência do discurso” do coreano quanto os céticos – às vezes raivosos – que dizem “nesse conto eu não caio mais”.
No meio dessa cena “eu já sei o que pensar do Kim Ki-duk” aparece Pietá, uma observação dos limites (ou ausência deles) do amor entre mãe e filho tendo como pano de fundo um comentário sobre o capitalismo. O ambiente é um distrito industrial decadente. Donos de pequenos negócios de metalurgia afogam-se em dívidas com um agiota. Entra em ação o malvado Kang-do para cobrá-las, com a violência que for necessária: amputam-se dedos ou braços, pernas são estraçalhadas, filhos são humilhados na frente de suas mães.
Partindo da representação de Michelangelo do corpo de Jesus nos braços de Maria, o filme constrói sua maneira de registrar os rostos da mãe e do filho. Rostos sempre à espera, em posição de clemência. Esses olhos puros que inspiram piedade – seja de um personagem ou do espectador – tornam-se perturbadores quando o filme investe pesado na ambiguidade da relação de Kang-do, o sanguinário, e Mi-son, a mulher que repentinamente aparece afirmando ser sua mãe.
Continue lendo a crítica de Pieta na Revista Interlúdio.