O corpo negro que performa, fabula e forja futuros está na própria gênese do cinema negro. Entenda-se como “cinema negro” aqui mais uma categoria política do que estética, um gesto de demarcar a presença de corpos negros ocupando o lugar primordial na feitura de um filme: o da direção. Cabe, contudo, uma discussão mais ampla, e que ainda precisa ser feita, para aprofundar o que – quais obras e estéticas – constitui esse Cinema Negro.
Alma no olho (1974), primeiro filme de um realizador negro brasileiro a convidar sua negritude para o centro do ato cinematográfico, traz Zózimo Bulbul – diretor, ator, roteirista e produtor da película – (re)contando quatro séculos de vidas negras no Brasil por meio de um único corpo (o seu), um único cenário (um estúdio em fundo branco infinito) e a ausência de diálogos, contraposta à vibração dos sons e da trilha de John Coltrane. Um corpo frente a uma câmera comunicando uma experiência diaspórica.
Cinema, performance e artes visuais
Corta para 2018. Em produções negras contemporâneas, em especial as realizadas por mulheres, a performatividade não só mantém sua força, mas têm buscado um diálogo que ultrapassa tanto o específico da performance em si, quanto o do Cinema (aqui em maiúsculas para denotar um conjunto de regras que delimita o que é ou não um filme), tomando emprestado também dispositivos e processos criativos das artes visuais.