Latinidade tecnológica

RIO — Como o cinema, assim como todas as linguagens artísticas, passam pela subjetividade, os filmes trazem, em maior ou menor quantidade, as experiências e inquietações de seus realizadores. Um tipo de cinema cujas experiências pessoais saltam para as questões colocadas na terra é o de Alex Rivera.

Filho de peruano com americano, ele cresceu em contato com o american way of life e com a latinidade. E por ser fruto tanto do opressor como do oprimido politicamente, a questão da imigração é cara em seu cinema. Com maior experiência em vídeos e docs, Rivera estréia no longa-metragem de ficção com “Sleep Dealer”, que integra a Premiére Latina do Festival do Rio.

Pra começo de conversa, um paradigma é posto. Quando se fala da exploração do imigrante, pensa-se em uma ficção com toques realistas, como aconteceu em “Babel”, de Alejandro González Iñarritu. Mas Rivera põe o pé no freio do realismo e joga a história no gênero da ficção científica. Nas próprias palavras do diretor: “É uma ficção científica que se passa no México e que, basicamente, usa o gênero sci-fi para olhar para assuntos políticos em voga hoje, mas os imaginando cinco minutos á frente, no futuro”

Memo Cruz (Luis Fernando Peña) mora em Oaxaca, área rural do México, mas é ligado em tecnolgia e sonha em sair do local. A região é assolada pela falta de água depois que uma empresa passou a represá-la. Devido a uma de suas invenções tecnológicas, seu pai é assassinado. Parte então para Tijuana, a cidade conectada, onde os habitantes, se quiserem se conectar à economia global, usam fios que plugam diretamente no corpo. Lá encontra Luz (Leonor Vargas), uma contadora de histórias.

O grande tema do filme é a condição do migrante. Mas dentro do gênero sci-fi. Memo não precisa ir aos Estados Unidos para conseguir um sub-emprego. Basta apenas que trabalhe em empresa que o emprega em uma obra em San Diego (EUA). Memo precisa apenas conectar-se a uma máquina e… tcha-ram: está controlando um robô que trabalha em uma construção cível. Ao seu lado, uma jovem controla um robô que colhe laranjas na Flórida. Privacidade e liberdade são duas palavras inexistentes em Tijuana.

Rivera tem uma postura de esquerda. Como é muito ligado à internet e ao mundo cyber, não propõe a Revolução, mas a sabotagem, a ação direta como mecanismo de resistência. Justamente essa ação direta vai unir Memo, o piloto Rudy (que assassinou o pai de Memo) e Luz. O diretor propõe uma lição com o filme: mesmo com uma realidade de conexão total e irrestrista, vai haver sempre aquele aparentemente contectado, mas que não passa de um membro da periferia explorado.

Em tempo: o site de Rivera (clique aqui) tem detalhes da carreira, vídeos, links de cyberativismo. E no vídeo abaixo, o diretor, Leonor e Jacob Vargas explicam detalhadamente seus personagens.

2 comentários

  1. aiiii, já passou a mostra, né? e nada do filme.Como eu não ouvi ninguém se movimentando (leia-se: distribuidora), acho que não entra não. E, pra falar a verdade, olhando para os filmes que entraram em cartaz este ano, não parece ter o perfil de filme que entraria aqui no Brasil. No máximo, um DVD.

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