Damas do Prazer 2

Há umas duas semanas atrás, escrevi sobre “Damas do Prazer”, considerado um dos filmes mais sofisticados da Boca do Lixo, lá pro Cineclick (o link está aqui). O filme faz parte da mostra Clássicos e Raros, cuja seleção está ótima, atualmente rolando no CCBB e na Cinemateca.

Além da falta de pudor que o diretor/fotógrafo Antonio Meliande tem não só com o sexo, mas com se aproximar (e não se esconder) dos temas que surgem ao longo do filme, faltou mais um detalhe que eu só percebi hoje, na aula do Inácio, quando se falou de Emile Zola e a adaptação de Jean Renoir para “A Besta Humana”.

Pois bem, “Damas do Prazer” é inspirado em alguns contos do Zola, em especial “Nana”. Eu não conheço absolutamente nada de sua literatura, mas na aula de hoje discutimos sobre como ele dá um ar heróico a operários. Como ele posiciona seu olhar dando aos pobres do cotidiano a mesma importância dada pela literatura clássica aos ricos. É um olhar social, mas também humano. É afirmar que a rotina deles é tão merecedora de atenção artística quanto a de seus patrões.

Quando assisti a “Damas do Prazer”, simplesmente não saquei, por desconhecer Zola, de onde vinha a inspiração do escritor no filme. Pimba, a ficha caiu: está no tratamento dado às prostitutas!

No filme, produzido em 1979, são cinco mulheres. Umas na flor da idade, caso da Japa, outras virando a curva, como Cora. O que a direção e o argumento escrito por Ody Fraga fazem? Antes de serem taxadas como mulheres da vida, sedutoras, imorais, sofredoras bla bla bla, “Damas do Prazer” coloca um elemento fundamental: trabalhadoras. Sem juízo de valor. Não são mais ou menos trabalhadoras pelo fato de serem prostitutas. Apenas operárias – no caso, do sexo.

Passando o filme na cabeça depois de ter um mais que rápido contato com as ideias de Zola, fica muito claro isso como textura. Claro que pintam umas aventuras, dramas, amores, felicidades e etc no caminho das cinco mulheres. Só que, antes de tudo isso, o filme as colocas como operárias que batem cartão – rodam a bolsinha, digamos –, toda noite no ponto.

É só um comentário que achei necessário acrescentar para ampliar um olhar de quem assistiu ao filme trinta anos depois de ser feito e sem um contato íntimo com o sistema da Boca do Lixo.

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