Estreia na próxima sexta-feira (8/7) a cinebiografia de Serge Gainsbourg. “Cinebiografia” não é uma classificação condizente com este filme, sejamos sinceros. Trata-se de um filme que, em vez de privilegiar os fatos, prefere a fantasia, a transposição de um universo mítico e imaginário para o cinema.
Prevejo que o público que gostou de filmes como Piaf – Um Hino ao Amor ou Ray não deverá simpatizar com Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres. Os dois primeiros flertam com o registro trágico: a francesa viveu uma torrente de desgraças, enquanto o norte-americano se encaixou, no cinema, como uma história de superação.
Gainsbourg é um devasso, boêmio. Joann Sfar, o diretor que sobrevive como quadrinista e estreou na direção de cinema, fez um filme sobre projeções, especialmente a do medo de um menino judeu na França ocupada pelos nazistas e um fantasioso alter-ego que o atira em direção às mulheres. Procurar por uma referência ao legado de Gainsbourg para a cultura pop no filme de Sfar é um erro.
Já tem até leitor do IMDB reclamando disso. Desculpe-me, mas Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres não é matéria jornalística, mas cinema. E felizmente temos um filme que não tenta enquadrar o artista, mas deixá-lo escapar pelas bordas, transbordar a caretice.
Como au revoir, deixo Serge Gainsbourg cantando Aux Armes et caetera, sua versão em reggae para A Marselhesa, o hino francês.