Para compreender os protestos deste fim de semana na Rússia contra Vladimir Putin e as fraudes nas eleições do Parlamento, é preciso voltar uma vez mais ao cinema de Marina Goldovskaya, cuja obra foi homenageada em abril de 2011 no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários.
A câmera de Marina – hoje uma senhora de 70 anos – registrou a transição da União Soviética ao formato atual da Rússia e os países independentes. Enquanto a História era feita, seu cinema estava lá para acompanhar.
Ouvindo sobre as 15 mil pessoas que foram às ruas, após anos de paralisia, para dizer que estavam cansadas – uma “bandeira” da apática classe média russa –, lembro de Um Gosto da Liberdade, filme que Marina fez em 1991 registrando as esperanças e a tensão de quem saiu para protestar ou apoiar logo após o fim do bloco Soviético.
Hoje, o cenário mudou. Não se sabe se os protestos – 5 mil pessoas na segunda-feira (5/12), 15 mil neste sábado (10) – manterão o fôlego como naquele momento acompanhado pelo cinema de Marina. Também não há uma centralização em torno de um partido político ou com bases em movimentos sociais.
A esmagadora maioria da classe média inoperante que desta vez saiu às ruas segue um blogueiro/twitteiro, Alexei Navalny. Mas nem o que o ativista pensa está muito claro: posiciona-se a favor da democracia, contra as repressões de Putin, mas é ultranacionalista – como lembra esta matéria publicada no The New York Times.
É preciso que Marina Goldovskaya faça mais um, e outro, e outro filme para que tenhamos a compreensão se esse momento da Rússia representa mesmo algo especial: que lugar é esse que 15 mil pessoas vão às ruas reclamarem de Putin, figura que goza de mais de 60% de popularidade na Rússia?
Há mesmo o anseio de mudança? O que as mídias sociais podem representar em termos de aglutinação e militância? Qual é a outra via sem Putin? Se os protestos se tornarem maiores, como os defensores dele e a máquina estatal vão reagir?
São questões que precisam muito do cinema de Marina Goldovskaya para serem respondidas.
Em tempo: neste link do blog The Ledge, do The New York Times, é possível acompanhar atualizações constantes dos protestos na Rússia.
Em tempo2: neste link em streaming, veja vídeos dos protestos e das ruas ocupadas.
isso me lembra que… deixa pra lá.