Rutger Hauer, que eternamente será lembrado como o antagonista de Harrison Ford em Blade Runner, é um ator de assombrosa versatilidade.
No ano passado, protagonizou dois filmes de propostas e resultados inteiramente diferentes.
Em O Moinho e a Cruz, escolhido melhor filme do I Festival Internacional Lume de Cinema, em São Luís do Maranhão, bravamente organizado por Frederico Machado, Hauer vive o pintor Peter Bruegel.
Mais do que a natureza do personagem, o que se destaca no filme é a encenação milimetricamente calculada pela direção de Lech Majewski. Toda a história é baseada no quadro A Procissão para o Calvário, cujos personagens saltam da tela e ganham vida, têm suas histórias projetadas.
Planos lentos, organização simétrica do quadro, sisudez são aspectos marcantes de O Moinho e a Cruz – neste texto escrito para o Cineclick há mais comentários, e alguns deles hoje me soam equivocados.
Do outro lado da trincheira, Hauer protagoniza um filme que é um fetiche do cinema de gênero, O Vingador, que chegará às locadoras em junho distribuído, se não me falha a memória, pela Califórnia Filmes.
Hauer como o mendigo matador de Hobo With a Shotgun |
Neste filme, spin-off do Projeto Grindhouse de Tarantino e Robert Rodriguez, Hauer é, como ilustra o título original Hobo with a Shotgun, um mendigo com uma escopeta. Quando chega numa cidade cuja lei é justamente não ter Lei nenhuma, a indignação toma conta do cansado mendigo que, armado com a tal escopeta, inicia um derramamento de sangue.
Tão fetichista que as mortes ultra sanguinolentas não assustam, mas provocam risos. Felizes risos, eu diria, compartilhados pelos neófitos desse cinema pós-moderno que faz referência (e reverencia) o exploitation.
Está aí um exercício divertido: comparar a atuação canastrona de Rutger Hauer em O Vingador com o registro detalhista de O Moinho e a Cruz.