O gato esquálido, de olhos grandes e assustados, pêlo rareando, caminha em direção ao bando de urubus num descampado. Nesse belíssimo plano está contida uma das poderosas metáforas do pequeno, mas vívido, documentário Palavras Mágicas Para Quebrar um Feitiço, um dos achados do Festival do Rio.
Na leitura do filme, o gato esquálido é apenas sombra do bichano peludo, repleto de vida. O gato é Daniel Ortega Saavedra, líder da revolução que derrubou a ditadura de Somoza na Nicarágua em 1979. Os urubus são a direita retrógrada, a elite conservadora, com a qual Ortega se aliou para voltar à presidência em 2006.
Palavras Mágicas não esconde seu pessimismo. Compara as imagens da Nicarágua atual com as esperanças de trinta anos atrás. Emparelha as manifestações de hoje com as posteriores ao 19 de julho. O diagnóstico é melancólico. O documentário põe o antes salvador contra a parede. Abertamente, trata-se de um filme sobre a falência das esperanças de uma geração.
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