Buscando na memória as reminiscências da sessão de Cine Holliúdy no Festival de Brasília, me veio a lembrança não só da paixão de Francisgleydisson, o protagonista, pelo cinema, mas seu esforço em dar o exemplo ao filho.
O longa de Halder Gomes será exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, esta é a razão para recuperar o filme na memória. Um filme que merece ser visto por diagnosticar, pela comédia, a precariedade de se fazer cinema no Brasil.
Mas esse aspecto eu deixo para ser comentado no texto da Revista Interlúdio, a ser publicado pela semana – aliás, boa parte da minha cobertura da Mostra estará por lá. A razão do post é a questão dos laços familiares e o exemplo ao filho.
Francisgleydisson briga com o poder da televisão numa cidadezinha (o filme se passa nos anos 1970) e luta para manter seu cineminha aberto. Lá passa filmes de kung-fu em cópias precárias. Cabra arretado, ele persiste num cenário adverso.
Em boa parte pelo amor ao cinema, mas não só. É a necessidade em se fazer exemplo para o filho, dando sustentação real aos sonhos do garoto, que serve também de combustível na travessia de Francisgleydisson. É aí que Cine Holliúdy, uma comédia chanchadeira, e Robocop, obra-prima de ação de Paul Verhoeven, se encontram.
É por saber que o filho tem como herói um policial de seriado que devolve com malabarismo de caubói a arma ao coldre que o também policial Murphy se arrisca a encarar os bandidões sozinho. E paga por isso. Perde não só seu corpo e sua autonomia como ser humano, mas especialmente a família.
Em ambos os filmes, o exemplo paterno é um poderoso subtexto. E ambos também compartilham de narizes torcidos. Robocop porque muitos ainda não conseguem aceitar que filmes de ação também são obras-primas; Cine Holliúdy (que não é uma obra-prima, não exageremos) por parecer fútil e apenas “engraçado” nas suas peripécias.
São filmes que não merecem ficar no limbo.