Não à toa Os Residentes rachou a crítica. Um filme cujos personagens/artistas/guerrilheiros propõem um holocausto da lucidez, colocando em primeiro plano a penetração da arte e do artista no mundo contemporâneo passaria longe do consenso.
Vencedor da Mostra de Tiradentes em 2011, Os Residentes se articula na dualidade afirmação/negação, na construção do discurso contrabalanceada com uma desconfiança em torno dele. Fechados numa casa, os personagens passam a receber visitas. Surgem conflitos e estratégias lúdicas de intervenção.
Não há propriamente um enredo, mas sim a organização de segmentos conceituais que revelam um relacionamento com a História. Por ser um filme em crise – afirmação e destituição –, preenchido com interpretações antinaturalistas, Os Residentes demanda um deslocamento do espectador. Pois, no limite, é uma obra primordialmente estética – vide a referência à opt art e pop art.
Feito esse deslocamento, a recompensa é perceber que, a despeito de seu aparente anacronismo, Os Residentes é um filme fincado no presente, em como a nossa percepção desse momento é forjada pela História.
Serviço
Os Residentes (2012), de Tiago Tata Machado
Cotação: 4 estrelas
Lançamento em DVD pela Lume Filmes [saiba mais]
*originalmente publicado na revista Preview, seção Home, em abril de 2013.
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