É esta a conclusão mais óbvia após assistir a O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro: Michael Bay venceu. A balança, quando se trata de blockbuster, ainda que seja um com um personagem tradicional e que já teve um registro cinematográfico digno nas mãos de Sam Raimi, pende mais e mais para o estilo Bay de cinema: quanto mais, melhor.
Mais barulho, mais vilões, mais personagens, mais movimento, mais pontos de vista da câmera, mais explosões, mais objetos voando na nossa cara. Com Bay, não existe “it might get loud”, mas sim “it’s gonna get loud”.
Marc Webb (de (500) Dias com Ela e videoclipes) assina a direção do tal reboot (o reinício após a trilogia de Raimi). E segue com afinco a cartilha Bay de cinema. Nos primeiros quinze minutos, duas sequências de luta, uma encavalada na outra, filmada com um exagero de quem está deslumbrado com as possibilidades que o CGI oferece.
Não vou comentar sobre este Homem-Aranha vivido por Andrew Garfield ser hipster, enquanto o de Tobey Maguire ser mais introvertido, pois não sei se isso é decisão apenas do filme ou um elmento presente nas diversas fases do quadrinho.
Me atenho, pois, a esse aspecto do exagero, que torna a experiência de assistir a O Espetacular Homem-Aranha 2 (ironia colocar “espetacular” no título num filme que não tem nada disso, a não ser que olhemos sob o prisma do espetáculo críticado por Guy Debord) muito cansativa.
O filme precisa de dois vilões mais a rebarba de um terceiro (que abre e encerra o filme). Resultado: as motivações dos personagens estão longe de um desenvolvimento satisfatório. Havia o tal Electro (Jamie Foxx), que assume a vilania por um complexo de inferioridade. Chegamos à sequência da Times Square. O único momento em que assistimos a um filme, de fato, mas que também não se desenvolve – residia ali uma potencial crítica à necessidade, em tempos modernos, de ser visto a todo instante, como se “penso, logo existo” houvesse se transformado em “sou visto, logo existo”.
É preciso dar conta da doença de Harry Osborne e de um criminoso lunático com um nome russo (hmmm, voltamos aos anos 80?) e que berra o tempo inteiro. É preciso descobrir o passado do pai de Peter Parker, voltar à memória do pai da namorada Gwen Stacy e, além disso, fazer o Homem-Aranha voar ene vezes. Muita coisa para abraçar e nenhuma a contento.
Tem-se a sensação de que esse reboot que se promete espetacular já no título é um blockbuster genérico, asséptico, no qual o Homem-Aranha poderia ser substituído pelo Homem-Cueca, Homem-Salsicha ou sei lá quem, sem perdas ou ganhos.
Tenho respeito pela trilogia de Sam Raimi e acho o segundo filme bastante bom. No terceiro filme (que é ruim) há um plano muito simples e que passa quase despercebido, mas que ilustra como era possível enxergar cinema em Raimi: quando Harry decide realmente se vingar de Peter Parker, a câmera executa um travelling que expõe a sua nova armadura, desenvolvida a partir do protótipo do pai. Num plano se ilustra que ali existe uma linhagem.
Sem contar todos os planos de personagens confrontados no espelho (falar de espelho no cinema é acessar uma tradição e um passado) ou os planos de observação do rosto de Tobey Maguire profundamente dividido.
Mas não há tempo para isso neste espetacular Homem-Aranha. Só há tempo para mais explosões, mais barulho, mais movimento e mais admiração narcisística com o CGI.
Michael Bay venceu.