Prezados leitores, começo na próxima sexta-feira (10), no Sesc Ipiranga, em São Paulo, a ministrar o curso O Som ao Redor – Cinema Pernambucano. Como o título já indica, trata-se de investigar historicamente a produção cinematográfica vinda de Pernambuco, traçando diálogo com episódios do passado (Ciclo do Recife, Ciclo do Super-8), relacionando com um passado bem recente (o renascimento com Baile Perfumado), a constância de produção dos anos 2000 e o sucesso de crítica e (relativamente) de público que representou O Som ao Redor. Como todos os cursos do Sesc, o valor de inscrição é bem barato (varia de R$ 4 a 20). Mais informações vão abaixo. Avisem os amigos.
A estreia de O Som ao Redor é um marco no cinema brasileiro recente. Há muito tempo não chegava aos cinemas um longa-metragem tão elogiado por diferentes setores. A crítica foi praticamente unânime ao exaltar os méritos do filme. Diversos festivais internacionais e nacionais premiaram a produção e seu diretor Kleber Mendonça Filho. O público abraçou o filme, deixando-o próximo à marca de 100 mil espectadores, um feito notável considerando o pequeno lançamento (13 salas, cerca de 1% de um blockbuster).
Elogios de Caetano Veloso (“um dos melhores filmes feitos recentemente no mundo”) e Arnaldo Jabor (“magnífico retrato das misérias de um cotidiano despercebido”). Críticas positivas no New York Times, Los Angeles Times e extensa matéria na prestigiada Sight & Sound. O Som ao Redor motiva discussões acaloradas como as que acompanharam as estreias de Cidade de Deus em 2002 e Cronicamente Inviável em 2000.
Mas o impacto do longa-metragem não é obra do acaso. É preciso mirar um passado recente e perceber que carreira de Mendonça Filho como curta-metragista antecipa muitos dos temas tratados no longa. Olhar ao redor e notar que há uma geração talentosa, premiada na última década, que passa a receber a companhia de jovens realizadores ainda mais ousados. Voltar ainda mais no tempo e recuperar a irônica e agressiva produção em Super-8 nos anos 1970.
O curso O Som ao Redor – Cinema Pernambucano, ministrado pelo crítico de cinema, pesquisador e jornalista Heitor Augusto, vai investigar os caminhos da produção pernambucana que desembocam no multipremiado longa-metragem de Kleber Mendonça Filho. Em pauta, o Ciclo do Recife na década de 1920 e a prolífica produção de Jomard Muniz de Britto e Fernando Spencer nos anos 70.
Já no período da Retomada, será abordado o florescimento de uma geração a partir da vitória de Baile Perfumado no Festival de Brasília em 1996 e os desdobramentos da obra de Marcelo Gomes (Era uma Vez Eu, Verônica), Cláudio Assis (Febre do Rato), Paulo Caldas (País do Desejo), Lírio Ferreira (O Homem que Engarrafava Nuvens) e Hilton Lacerda (Tatuagem). Num período mais recente, será apresentada uma nova geração ainda mais autoral e diversa, como Gabriel Mascaro (Doméstica), Daniel Aragão (Boa Sorte, Meu Amor), Marcelo Pedroso (Pacific) e Renata Pinheiro (Amor, Plástico e Barulho)
Cronograma
AULA 1 – OS CICLOS DO PASSADO
Ciclo do Recife (1923-31): Jota Soares e a Aurora Filmes
A Filha do Advogado e Aitaré da Praia: clássicos do cinema mudo
Anos 1970: o deboche à cultura oficial
Jomard Muniz de Britto e o Palhaço Degolado
Fernando Spencer e o documentário X Amin Stepple e os “anarquistas”
AULA 2 – BAILE PERFUMADO: RESSURGIMENTO E DESDOBRAMENTOS
Resgate Cultural e a volta do deboche
Vigor juvenil e crise identidade nos anos 1990 (Terra Estrangeira)
Sertão Pop X Sertão Mar
Diálogos com o Mangue Beat
Lírio Ferreira: arcaico X moderno
Marcelo Gomes: cinema de personagens
Cláudio Assis, um provocador
Hilton Lacerda: passado, presente e sexualidade
AULA 3 – PARAÍSO DA CINEFILIA OU O SOM AO REDOR
Recife, uma cidade que se verticaliza
Carisma pop (Recife Frio e Eletrodoméstica)
Diálogo com o cinema de gênero: John Carpenter, Polanski e Trabalhar Cansa
Sedimentação no curta-metragem
O didatismo é inerente ao cinema político?
AULA 4 – NOVOS REALIZADORES
Amor e crítica a Recife: Praça Walt Disney e Câmara Escura
Especulação audiovisual, estudo de dramaturgia: Avenida Brasília Formosa e Pacific
Prazer estético: Boa Sorte, Meu Amor e Superbarroco
Cinema de gênero e crítica: Mens Sana in Corpore Sano e Calma, Monga, Calma
Relações de classe: Doméstica e Um Lugar ao Sol
MINIBIOGRAFIA DO PROFESSOR
Heitor Augusto é crítico de cinema, pesquisador e jornalista. Redator da Interlúdio, revista eletrônica de crítica de cinema. Colabora com ensaios, críticas e resenhas para a revista Preview. Tem textos publicados em diversos jornais, revistas e sites, além de escrever regularmente para catálogos de mostras de cinema. Realiza pesquisa permanente sobre o cinema Blaxploitation, sobre o qual prepara um livro a ser lançado em 2015.
Ministrou os cursos Multiplicidade do Cinema Africano (Sesc Belenzinho), Panorama do Cinema Brasileiro Contemporâneo, Francofonia – Ecos no Cinema de Língua Francesa e Cinema Americano – Anos 70 (CineSesc). Coordena o Crítica Curta, projeto de oficina de crítica de cinema do Festival Internacional de Curtas-metragens de SP. Desde 2013 é um dos curadores do MIMO 2013 – Festival de Cinema e Música.
Compôs também os júris oficiais da 12ª Goiânia Mostra Curtas e 2º Cine Mubi, além de ter participado de diversos júris da crítica. Sócio-fundador da Abraccine (Associação Brasileira de Crítica de Cinema) e coeditor do blog da associação entre 2011 e 2013. Mantém o blog de cinema Urso de Lata desde 2008 (ursodelata.com).
SERVIÇO
O SOM AO REDOR – CINEMA PERNAMBUCANO
Dias 10, 17, 24, 31/10. Sextas, das 19h às 21h30.
Inscrições na Central de Atendimento, a partir do dia 25/9, às 14h, com documento pessoal. 15 vagas.
Sesc Ipiranga – Rua Bom Pastor 822 – São Paulo
Valor: R$ 4 (comerciários), R$ 10 (meia-entrada) e R$ 20 (inteira)