Projeções
Lembro de três anos atrás, quando a transição para a projeção digital no Brasil ainda estava muito bagunçada (não que hoje ela esteja exatamente ajeitada, e cada vez que penso mais sobre isso me recordo do quão traumático foi para cinemas fora dos centros adaptar-se ao filme sonoro durante a década de 30). Ir à Mostra era sempre garantia de esbarrar numa projeção desgraçadamente ruim (quem viu aquela cópia em, acho, beta, de Carlos, do Assayas, sabe do que estou falando).
Felizmente, a qualidade da projeção aumentou agudamente. Com exceção da sala 4 do Frei Caneca. Não conheço a qualidade da projeção em outros dias, já que não sou frequentador assíduo de lá. A projeção que assisti, porém, de A Noite Acalmou (ok, o filme não ajuda, é um legítimo bola preta), estava prejudicando bastante o filme: simplesmente não havia foco (em especial nos planos gerais) e as cores não tinham brilho algum. Tudo lavado.
Vaias
Em todas as sessões da mostra que fui até agora, sempre rola uma vaia, em maior ou menor grau, à propaganda da Folha, na qual se diz que o jornal tem suas posições, mas publica opiniões diferentes – irônico alardear essa suposta qualidade após o evento Xico Sá. Me lembra um pouco o que acontecia durante o Festival do Rio todas as vezes que surgia na tela a vinheta da RioFilme: tornou-se quase um happening vaia-la.
Au fil d’Ariane
Cotação: 2 estrelas
Acho que não me dou bem mesmo com os filmes do Robert Guédiguian e a boa recepção que tive ao seu trabalho anterior, As Neves do Kilimanjaro, foi uma exceção e não se confirmou no novo longa. Não acredito no artificialismo calculado que parece nunca acreditar nas possibilidades reais em se fazer um “filme de mentira”, ou melhor, um filme calcado numa mentira criada pelo subconsciente – um filme de sonho realmente. Fala da personagem que imagina perder-se numa fantasia de liberdade, mas o filme nunca se permite dar saltos rasantes, preferindo a reiteração óbvia, que culmina na sequência final explicativa.
Acima das Nuvens
Cotação: 3 estrelas
Ao lado de Força Maior, esse filme do Assayas é um dos que passam na Mostra e que ainda não me resolvi inteiramente com ele. Em muitos momentos senti coisas que não me ocorriam num filme dele desde Horas de Verão. Em outros, não conseguia deixar de pensar na natureza dos embates das personagens e se o confronto “vida real” x “peça que encenamos” não estava muito didático.
A interação sólida entre Juliette Binoche e Kristen Stewart diminuiu, é verdade, o incômodo. Além de que há uma quantidade significativa de camadas no filme (o quanto da trajetória das próprias atrizes serviu de matéria para o filme é uma delas). Pretendo voltar a esse filme quando estrear no circuito (acho que a distribuição será da Califórnia Filmes).
A Noite Acalmou
Cotação: Bola Preta
Apesar de ser constrangedoramente ruim (ainda que “bonitinho” e “sensível”), houve algo bom em assistir esse filme: perceber que esse tipo de cinema autocentrado, incapaz de olhar um palmo além do umbigo, e que passa por uma série de lugares comuns do romance de formação não é específico ao cinema brasileiro, em especial o de curta-metragem. A cilada atrai gente de cantos outros.