Para aqueles que não se sentem tão confortáveis escutando uma entrevista em inglês, fiz uma rápida tradução transcrita da entrevista que Viola Davis concedeu logo após ganhar o Globo de Ouro. Nela a atriz premiada por Fences fala sobre a parceria com o marido, a ausência de histórias sobre sentimentos profundos localizados nas vidas de pessoas comuns (especialmente as negras) e reflete como a eleição de Trump aponta para um contexto maior e complexo.
Jornalista: Parabéns Viola, tenho duas questões aqui dos fãs que nos escreveram pelas mídias sociais. Qual é a primeira coisa que você irá fazer quando chegar em casa hoje à noite?
Hmmm, bem, não vou entrar na minha jacuzzi porque será muito tarde. Provavelmente tomar uma segunda dose de prosecco com meu marido… é… sem graça…
E a segunda: onde você vai colocar a sua estatueta do Globo de Ouro?
Meu marido sempre toma conta das estatuetas. Depois de hoje… eu super estimo esse aqui, mas eu tenho de deixá-lo de lado e voltar a trabalhar, enquanto isso ele coloca no escritório. Numa prateleira.
Parece que toda vez que eu te vejo você tá sempre sendo premiada, o que é ótimo. Nós falamos sobre seu trabalho sempre, mas você acabou de mencionar Julius. Conversei com ele e tenho a sensação de que ele é o marido mais orgulhoso em Holywood. Conte-nos algo sobre a sua comunicação e trabalho em equipe com Julius que a torna melhor
Não sei, essa é uma questão a ser respondida pelo Senhor. Não sei o que eu fiz para merecer tê-lo entrando na minha vida 18 anos atrás. Eu só sei que funcionou. Sei que é uma amizade muito grande, quando eu estou pra baixo ele está bem, quando ele está pra baixo, eu estou bem. Então podemos jogar uma corda pra resgatar um ao outro. Agora toda vez que as pessoas mencionam nossos nomes elas os fazem colocando os dois juntos, JuliusViola… JuliusViola. Mas a verdade é: acho que o que temos é respeito no mais alto nível. Respeito de eu querer o melhor pra ele e vice-e-versa. Essa é provavelmente a base mais verdadeira do amor.
Esse prêmio vem depois de você ganhar um Tony pelo mesmo papel. Você poderia falar sobre como foi trazer a história, ao lado do Denzel, dos palcos para a frente das câmeras?
Foi muito natural e pra mim já sinto como uma história intimista. Mas… não intimista de uma forma que a torne menor, pequena. Penso que com Shakespeare ou Tchekov ou qualquer escritor de tragédia eles escrevem sobre grandes emoções, pessoas que lutam por suas vidas no contexto de família ou de comunidade. E foi um prazer de ter esse desafio, de ter as palavras de August Wilson [autor da peça que deu origem ao filme], de ter aquelas personagens… e como eu disse no discurso: muito esporadicamente a pessoa comum ganha a devida atenção, especialmente se for uma pessoa negra. Com a gente, sabe, é sempre cinebiografias, que são maravilhosas, mas é sempre sobre alguém que fez algo estupendo em vida e com isso mudou o nosso país. Mas eu também gosto das histórias das pessoas menores. Acho que elas sintetizam um tempo, são universais e inclusivas – e é isso que August fez. Pra mim eu senti como uma fruição natural de levar essa história às telas.
Gostaria de conversar com você sobre na América da Era Trump, como nós asseguramos que o progresso que fizemos em termos de tensão racial e de pessoas comuns que você acabou de mencionar… como asseguramos que essas pessoas ainda tenham uma chance de participar do Sonho Americano e que continuemos na direção certa? Como podemos incluir essas pessoas?
Bem, acredite ou não vou tirar o Trump da equação porque creio ser maior que ele. Acredito que seja responsabilidade nossa manter de pé o que significa ser um americano e o que a América é. E o significado real do que é almejar ao Sonho Americano. América enquanto tal tem sido uma afirmação, mas acho que não alcançamos o objetivo demasiadamente porque não é possível que tenhamos alguém no posto mais alto de comando que não seja uma extensão do nosso próprio sistema de convicções. Então o que a eleição de Trump diz sobre nós? É ISSO, creio que se respondermos a ESSA questão compreenderemos. Sei que pode parecer ambíguo, mas…