Fatih Akin volta ao Brasil

Fatih Akin faz parte de um tipo de cineasta que está antenado com seu tempo, mas não aceita conceber seus filmes como panfletos. Para ele, nascido na Alemanha, mas filho de turcos, isso significa não fugir da questão da imigração turca para o país germânico, mas sem transformar seu filme em um objeto direto de conscientização e instrumento para uma discussão profunda da questão turca em relação aos alemães.

Resumindo: seus filmes, especialmente “Contra a Parede”, são ideais para serem discutidos em uma roda de amigos ou citado em alguma palestra que aborde a imigração para a Europa. Porém, raramente seriam exibidos em um hipotético sindicato dos imigrantes turcos para conscientizá-los da condição de exploração que alguns vivem.

Akin, na condição de turco-alemão, sempre afirmou que preserva as tradições turcas da sua cultura. Porém, não a absorve de maneira totalitária, íntegra, assumindo-a como plena. Por ter freqüentado escolas alemãs desde a infância, se considera alemão, mas questiona as contradições germânicas; e se considera turco, questionando as contradições turcas, especialmente a questão do Curdistão.

Pois bem, Fatih Akin volta a desembarcar no Brasil em julho. Seu novo filme, “Do Outro Lado” (tradução literal de “Auf Der Anderen Seite”) será distribuído pela Imovision, de Jean-Thomas Bernadini (dono do Reserva Cultural), e tem previsão de estréia em 4 de julho. “Do Outro Lado” deu ao diretor o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes em 2007, além do prêmio Ecumênico. Aliás, Fatih já foi premiado em outro grande festival: Em 2004, aos 30 anos, venceu a Berlinale com “Contra a Parede”.

Assim como em seus filmes anteriores, o diretor prima por contar histórias. Desta vez, traz dois núcleos que se unem. Nejat (Baki Davrak) não admite que seu pai tenha escolhido a prostituta Yeter (Nursel Köse) para namorar. Porém, repensa sua atitude quando descobre que ela manda dinheiro para custear os estudos de sua filha na Turquia. Nejat vai até Istambul para tentar encontrar Ayten (Nurgül Yesliçay), filha da prostituta. Porém, ela, uma ativista política, já migrou para a Alemanha, onde encontrou proteção de Lotte (Patrycia Ziolkowska) (veja trailler).

O conteúdo político mais denso do filme está em um diálogo entre Ayten e Susanne, a conservadora mãe de Lotte. As duas conversam sobre uma questão cara tanto à Turquia como ao bloco europeu: a entrada na União Européia. A jovem é crítica em relação a essa perspectiva: “Não acredito na União Européia. Inglaterra, França, Alemanha, Espanha… todos são países colonialistas”. A velha, dona da casa, responde: “Tudo pelo que você luta será recuperado quando vocês entrarem na União Européia”.

Akin não foge a um importante debate político de grandes implicações. Porém, levanta questões e não afirma claramente uma opinião acerca do tema. Um diretor cujos filmes levantam discussão, não formatam cabeças.

Em tempo: O último filme de Akin exibido no Brasil foi “Atravessando a Ponte, o Som de Istambul”, que investigava as diversas tradições musicaispresentes na capital turca, do rock ao religioso, passando pela música curda e o rap.

Em tempo II: a revista britânica “film&festivals” publicou, na edição Verão – 2008, um perfil de Fatih Akin assinado por Eddie Cockrell, do time de críticos da Variety.

Em tempo III: uma boa leitura sobre o que é um trabalhador turco em um sub-emprego na Alemanha está em “Cabeça de Turco”, Gunter Wallraff. O repórter se disfarçou de turco por alguns meses e se submeteu a degradantes condições de trabalho – no livro, ele relata o cotidiano do trabalhador.

1 comentário

  1. Muito interessante saber da história de Akin, isso me fez entender melhor como ele alcançou tamanha sensibilidade em Solino, me parece, depois de ler seu post, que Solino tem momentos de auto biografia.(muito bom)

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