— De Tiradentes, Minas Gerais
Durante a projeção de Porto das Caixas, lindo filme de Paulo Cezar Saraceni, homenageado da Mostra de Tiradentes, pensei muito na relação afetuosa que tenho com outros três filmes: A Mulher de Todos, E Deus Criou a Mulher e Anjo do Mal.
Em Porto das Caixas, uma mulher isolada num fim de mundo decadente, começa a se desesperar para sumir das garras do marido (um bundão de marca maior). À frente da linda Irma Alvarez surge um dono de botequim, um soldadeco e um barbeiro e todos acabam se tornando candidatos a atender o pedido sedutor de Irma: matar o marido.
A fábula do filme (mulher seduz amantes para matar marido) me lembrou a sedutora Candy (Jean Peters) de Anjo do Mal (Pick Up on South Street), filme de 1953 dirigido por Samuel Fueller. Não que na produção de Fueller existam maridos e amantes, mas Candy joga seu charme sobre os homens, engando a todos e praticamente os obrigando a matar uns aos outros.
Pensei também num certo tratamento independente da mulher como no francês E Deus Criou a Mulher. No filme de Roger Vadim, Brigitte Bardot destroi os corações que a perseguem. Em Porto das Caixas, Irma brada “eu não sou de ninguém”. Um sentimento um tanto BB no filme de Saraceni.
Esse mesmo sentimento me fez lembrar, em última instância, de A Mulher de Todos, de Rogério Sganzerla. Linda, deslumbrante e poderosa, Helena Ignez esnoba o boçal personagem de Jô Soares nesse filme irônico.
De maneira alguma Porto das Caixas é um agrupamento de referências, mas durante a bela projeção aqui em Tiradentes fiquei pensando nesses filmes que trazem a mulher comandando os homens.