Entre 20 e 30 de novembro lançamos o NICHO 54, instituto fundado por Fernanda Lomba, Raul Perez e eu, Heitor Augusto, que atuará na formação de pessoas negras para o audiovisual. Nossas intenções e desejos foram captados nessa matéria do Mundo Negro.
Ao lado dos workshops e da masterclass, teremos também uma especialíssima mostra de filmes. Herói Negro Amor exibirá obras organizadas sob dois eixos: Super Heróis e Super Heroínas e Amor Negro. Em ambos os programas, o desejo é opor-se às imagens historicamente mostradas sobre nós, propondo outros olhares e caminhos.
Um dos destaques é a ficção Mil tons (No shade), da britânica Clare Anyiam-Osigwe, que discute o impacto do colorismo – sistema de valores que, dentro das comunidades negras, coloca as pessoas de pele mais clara à frente das de pele escura – nos relacionamentos e na busca por amor. Ao lançar seu filme nos cinemas do Reino Unido em 2018, Clare tornou-se apenas a sexta diretora negra britânica a ter um longa-metragem exibido no circuito comercial. Clare virá ao Brasil para participar apresentar seu filme e conversar com o público após a sessão.
Outra estreia em território brasileiro, Medida (Measure), curta-metragem da canadense Karen Chapman, apresenta a história de um menino em conflito com a partida de seu irmão. Karen é um dos jovens nomes que despontaram recentemente no panorama cinematográfico do Canadá, país que tem projetado a imagem de acolhedor do seu presente multirracial.
A retrospectiva combina clássicos como Cleópatra Jones, ícone do Blaxploitation que abre a mostra na tarde do feriado da Consciência Negra, e Línguas desatadas, obra-prima de Marlon Riggs que em 2019 comemora 30 anos de seu lançamento, com filmes contemporâneos como Quantos eram pra tá? e Negrume, curtas premiados recentemente no circuito de festivais brasileiro. Também compõem a programação filmes cult do cinema de gênero, como O demônio da noite, de Ernest Dickerson Jr., cineasta que começou como fotógrafo de Spike Lee, e Blacula – O vampiro negro, de William Crain, um dos diretores negros pioneiro em filmes de horror.
As exibições são gratuitas e acontecem no Jardin do Centro (Rua General Jardim, 490 – República), na salinha de cinema nos fundos do café. Confira abaixo a programação completa dos filmes, com dias, horários e sinopses. Sigam o NICHO 54 no Instagram e no Facebook:
20/11 (Quarta-feira), às 18h
Cleópatra Jones (Cleopatra Jones, 1973, EUA), de Jack Starrett (89’)
Um dos ícones do “Black is beautiful”, Tamara Dobson interpreta Cleopatra Jones, agente estilosa que é o orgulho de sua comunidade. Num filme embalado pelo groove musical setentista, Cleopatra desmascara policiais racistas, protege um centro para a recuperação de dependentes químicos, em parceria com seu companheiro Reuben (Bernie), e luta para derrubar a rainha do crime, a malvada Mommy (Shelley Winters).
21/11 (Quinta-feira), às 19h30
Negrum3 (2018, Brasil), de Diego Paulino (’22)
Entre melanina e planetas longínquos, NEGRUM3 propõe um mergulho na caminhada de jovens negros da cidade de São Paulo. Um ensaio sobre negritude, viadagem e aspirações espaciais dos filhos da diáspora.
Línguas Desatadas (Tongues Untied, 1989, EUA), de Marlon Riggs (’55)
Documentário abertamente pessoal e controverso sobre a experiência gay e negra nos Estados Unidos. Composto por trechos de notícias, histórias narradas para a câmera, saraus, performances de dança vogue, vozes e rap, o filme analisa, com feroz sinceridade, questões ligadas à identidade, à cultura, à história e à auto-expressão dos gays, dos negros e das lésbicas.
22/11 (Sexta-feira), às 19h30 – Heroísmos cotidianos (curtas-metragens)
Viver a vida (1991, Brasil), de Tata Amaral (’12)
O caos e a dura realidade da vida durante a crise do início dos anos 90, aparentes no cotidiano de Cleibson (Jeferson Gerônimo), um office boy de uma grande empresa paulista. Um dia cheio de promessas e obstáculos a serem superados com muito bom humor, como no caso da maioria dos brasileiros.
Medida (Measure, 2019, Canadá), de Karen Chapman (‘9)
Um garoto de nove anos é suspenso pela escola e, então, embarca numa jornada pelas ruas de Toronto, antes de voltar para casa para encarar sua mãe.
Afronautas (Afronauts, 2014, EUA), de Nuotama Bodomo (’14)
Estamos em 16 de julho de 1969 e os Estados Unidos se preparam para lançar o Apollo 11. A milhares de quilômetros de distância, a Academia Especial da Zâmbia espera chegar à lua antes dos americanos.
Quantos eram pra tá? (2018, Brasil), de Vinícius Silva (’29)
Cotidiano de três jovens negros estudantes da USP. Dandara (Dandara de Moraes), aluna de Ciências Sociais, Luiz (Luiz Felipe Lucas), de Teatro, e Vinícius (Vinícius Silva), de Cinema, representam uma geração de jovens negros e negras que acessaram universidades públicas nos últimos anos e, com suas diferenças, encontram um ao outro como refúgio e compartilham vivências neste ambiente.
23/11 (Sábado), às 17h
A jornada (2018, Brasil), de Jonathan Ferr (’10)
Em um universo afrofuturista, Ona (Ana Patrocínio) percorre sua jornada pela existência e encontra em Aiye (Bruno Silva) um amor ancestral, mas ameaçado por uma presença misteriosa.
Blacula, o vampiro negro (Blacula, 1972, EUA), de William Crain (’92)
Em 1780, ao tentar negociar o fim do tráfico transatlântico de escravizados, o príncipe africano Mamuwalde (WIlliam Marshall) é transformado em vampiro por Conde Drácula (Charles Macaulay), enquanto sua esposa, Luva (Vonetta McGee) é mantida em cativeiro até a morte. Duzentos anos depois, Mamuwalde, agora como Blacula, ressuscita em Los Angeles e inicia uma desesperada busca por Luva, que Blacula acredita ter reencarnado como Tula.
27/11 (Quarta-feira), às 19h30 (Exibição + debate com a diretora)
Mil tons (No shade, 2018, Reino Unido), de Clare Anyiam-Osigwe (‘103)
Jade (Adele Oni), uma bem-sucedida fotógrafa, não consegue disfarçar sua paixão por Danny (Kadeem Pearse), seu amigo por mais de uma década. Ao tentar superar essa desilusão e conhecer outros homens, ela percebe, através de encontros traumáticos, que a única coisa que impede sua felicidade é também sua beleza inerente: seus traços e o tom escuro de sua pele.
28/11 (Quinta-feira), às 19h30
O demônio da noite (Tales from the Cript: Demon Knight, 1995, EUA), de Ernest Dickerson (’92)
Brayker (William Sadler) é o portador da última das sete chaves que contém o sangue de Cristo e que foram espalhadas ao redor do mundo para impedir que as forças do mal emergissem. Caçado pelo Cobrador (Billy Zane), ele para numa cidadezinha e terá de contar com a ajuda dos residentes de um motel, em especial de Jeryline (Jada Pinkett Smith) para proteger a chave e, assim, garantir a segurança do mundo.
29/11 (Sexta-feira), às 19h30 – Amores negros (curtas-metragens)
Univitelino (Univitellin, 2016, EUA), de Terence Nance (’15) – Festival de Roterdã
Cidade de Marselha, França, dias de hoje. Aminata (Aminata M’Bathie) trabalha como cabeleireira em um salão dedicado a cabelos crespos. Badara (Badara Ngom) é mecânico. Quando se conhecem, sua história de amor transformará suas vidas para sempre.
Kandandu (2018, Brasil), de Luiz Franco (’15)
Pedro não enxerga seu verdadeiro filho, que se entrega aos seus desejos sozinho em seu quarto e com a proteção das máscaras do teatro. Em um momento, todas as máscaras caem.
Égun – Os mistérios do mar (2015, Brail), de Helder Quiroga (’12)
Um pescador busca compreender os fatos que conduziram seu pai à morte, abordando a relação entre a condição sociocultural de moradores de uma comunidade litorânea e a tradição espiritual afro-brasileira do Candomblé.
Amor de Orí (2017, Brasil), de Bruna Barros (’8)
Oxum todos os dias vai ao rio encher sua talha com água. Um dia, Iansã cruza seu caminho.
30/11 (Sábado), às 18h
Supa Modo (2018, Quênia/Alemanha), de Likarion Wainaina (’74)
Sofrendo de uma doença terminal, a atrevida Jo (Stycie Waweru), uma menina de 9 anos, é levada de volta ao seu povoado para viver os últimos dias de sua vida. Ela encontra conforto por meio do sonho de se tornar uma super-heroína e terá a ajuda de sua rebelde irmã adolescente Mwix (Nywara Ndambia), da mãe superprotetora Kathryn (Marrianne Nungo) e de todo o povoado de Maweni para fazer de seu sonho uma realidade.